Soja: Mercado em Chicago fecha semana com pressão do dólar às véspera de feriado nos EUA
O mercado internacional da soja fechou a semana severamente pressionado por uma junção de fatores nesta sexta-feira (22). Os dois principais contratos negociados nesse momento – julho e novembro/15 – encerraram com baixas de 3,14 e 2,99%, respectivamente, no balanço semanal, cotados a US$ 9,24 e US$ 9,07, respectivamente. Os futuros do milho e do trigo também recuaram neste pregão.
Na próxima segunda-feira, 25 de maio, o mercado não funcionará na Bolsa de Chicago em função do feriado do Memorial Day e diante desse “final de semana prolongado”, o movimento de vendas de posições foi intensificado por parte dos fundos de investimentos, além de ser favorecido por um dólar em alta frente a uma cesta das principais moedas internacionais e do bom desenvolvimento da nova safra dos Estados Unidos, segundo explicaram analistas.
“As vendas pré-feriado foram estimulados pelo dólar forte, o rápido plantio nos Estados Unidos, e bons níveis de umidade no país guiaram as baixas da soja e do milho, enquanto a realização de lucros permeou os negócios com o trigo”, diz Bob Burgdorfer, analista do site norte-americano Farm Futures.
E como explica o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o mercado segue testando novas mínimas, aparentemente buscando encontrar o “fundo do poço” das cotações, o qual seria próximo dos US$ 9,00 por bushel. “Nesses níveis em que o mercado fechou nesta sexta já não dão liquidação positivo para o produtor americano, que precisaria vender acima de US$ 9,50 / US$ 9,60 e mais o prêmio no Golfo de 80/90 cents de dólar”, diz. “Abaixo disso, alguns produtores já não consegue cobrir seus custos, ou seja, desse momento em diante veremos uma “paradeira” das vendas por lá, da safra nova, que já estão mais lentas”, completa.
Assim, para Brandalizze, o resumo dos negócios desta sessão foi de um movimento técnico, expressivamente influenciado pelo mercado financeiro e não de fundamentos, propriamente ditos. E diante desses valores mais baixos, os compradores já se mostram mais interessados em voltar-se à nova safra dos Estados Unidos. “Hoje o mercado negociou bastante. Muita gente comprou essa soja mais barata, muitos contratos foram fechados com empresas asiáticas, europeias, que já estão se protegendo com hedge comprando soja barata. Então, quem precisa do produto é momento de comprar contrato e, a frente, ele não tem garantia de que terá essa soja nos atuais valores, para garantir o físico barato”, afirma o consultor.
E depois desse fechamento semanal mais tenso, com quedas acentuadas, a expectativa do consultor para a próxima semana, que é mais curta para o mercado é de que, no cenário técnico, as cotações possam exibir alguma recuperação, porém, entre os fundamentos, os negócios com as vendas deverão ainda seguir lentos, com os produtores americanos focando no plantio e, consequentemente, os preços testando novas mínimas e os grandes investidores apostando ainda em “ganhar na baixa, buscandos os US$ 9,00”.
O mercado internacional, portanto, deve retomar seus negócios na próxima terça-feira, 26 de maio, quando serão reportados também os novos dados do boletim de acompanhamento de safras do USDA (Departamento de Agicultura dos Estados Unidos). No último reporte, a instituição mostrou que até domingo, 17 de maio, o plantio da soja já estava concluído em 45% da área e as últimas previsões climáticas indicam a continuidade de um cenário ainda favorável para os trabalhos de campo.
E para o analista de mercado Flávio França Junior, da França Junior Consultoria, “a pressão foi suavizada na semana pela demanda firme interna nos EUA e ainda avançando na exportação (mesmo que mais lentamente); produtores norte-americanos retendo produto pelos baixos preços; avanço do plantio do milho (impedindo transferência de áreas para a soja). E mais genericamente, a demanda global se mantendo aquecida, favorecida pelos baixos preços e pelo avanço na produção de carnes”.
E na contramão deste cenário, os preços da soja praticados na Bolsa de Dalian, na China, segundo informou o SIM Consult nesta sexta-feira, registrou seus mais altos patamares janeiro e subiram, somente nesta sessão, o equivalente a 38 cents para o produto importado.
Mercado Interno
No mercado interno, a semana foi de poucos negócios, com operações pontuais, localizadas e concentradas onde a comercialização se mostrava mais atrasada diante de uma ligeira recuperação das cotações nos portos brasileiros em alguns dias semana, apoiada pelo avanço do dólar frente ao real, ainda segundo explicou Vlamir Brandalizze.
Porém, no balanço semanal, os valores da soja disponível base porto fecharam com um resultado negativo. Em Paranaguá, a baixa foi de 0,75% de R$ 66,50 para R$ 66,00 por saca, enquanto em Rio Grande o recuo foi de 0,74%, com o preço passando de R$ 67,40 para R$ 66,90. No terminal de Santos, a cotação caiu de R$ 67,80 para R$ 67,00, perdendo 1,18%. No interior do país, as cotações também tiveram um fechamento negativo nas principais praças de comercialização.
Soja na Semana
Apesar disso, o consultor da Brandalizze Consulting, afirma que a demanda pela soja brasileira ainda é bastante forte e presente, com os embarques da oleaginosa batendo recorde em Paranaguá em abril e as operações neste mês de maio acontecendo em um ritmo também bastante acelerado, as quais são ainda favorecidas pelas boas condições de clima. “Há compradores e o reflexo disso são os prêmios”, diz. “Nos embarques para o segundo semestre, os prêmios são de 100 pontos, ou seja, US$ 1,00 acima de Chicago. Se pegarmos a posição agosto, o preço é de US$ 10,16, assim, o mercado tentou comprar algo entre R$ 67,50 e R$ 68,00 em Rio Grande, conseguiu bons volumes, mas não há muitos vendedores nesses patamares”, completou.
O consultor afirma ainda que, o alvo dos produtores para voltar a vender é de preços que voltem para a casa dos R$ 70,00, e os poucos negócios que saíram na semana foram mais expressivos no mercado gaúcho, quando os preços reagiram um pouco nos portos. “Isso traz alguma ‘tranquilidade’ para o produtor e ele acaba reduzindo a pressão de venda e trazendo prêmio mais positivo, além dos compradores continuarem agressivos”, explica. “E há de se considerar que a Argentina também não está vendendo nada, à espera das eleições que acontecem esse ano”, completa.
Sobre o cenário do mercado brasileiro, França Junior completa dizendo que ” a queda na CBOT, combinado ao câmbio volátil de curto prazo manteve os vendedores na defensiva em termos de oferta e os compradores indicando preços mais baixos na semana. Ainda assim, de forma bastante diferenciada de uma praça para outra. Pontos de atenção no mercado internacional: a evolução da demanda EUA, evolução do plantio e definição da área nos EUA, e evolução do petróleo e do financeiro. No lado interno: as flutuações na taxa de câmbio e a definição final da safra na América do Sul”.
Fonte: Notícias Agrícolas