Soja tem semana de volatilidade no Brasil e na CBOT; dólar e clima nos EUA no foco
A semana foi de volatilidade para os preços da soja. Tanto no Brasil – seja no interior do país ou nos portos -, quanto na Bolsa de Chicago, as cotações apresentaram movimentações bastante acentuadas. Entre os fatores de destaque de influência para o mercado nestes últimos dias estiveram o comportamento do dólar, a divulgação do novo boletim mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e, principalmente, o clima no Meio-Oeste americano.
E o balanço semanal para as cotações foi negativo. Na Bolsa de Chicago, o primeiro vencimento – julho/15 – fechou com US$ 9,40 por bushel, caindo 0,42% na semana. A baixa para novembro/15, referência para a safra americana, foi de 1,74% e o contrato encerrou os negócios valendo US$ 9,04. Durante a semana, no entanto, essa posição chegou a operar com US$ 9,30 diante das adversidades climáticas que vêm sendo registradas no Corn Belt e comprometendo os trabalhos de campo.
No porto de Paranaguá, o preço da soja disponível caiu 0,74% para R$ 67,50, depois de superar R$ 68,00 na semana, e para o produto da safra nova, o último valor foi de R$ 70,00 e baixa semanal de 2,10%. Entretanto, com variações pontuais do dólar, esse número passou de R$ 72,00 com variações pontuais do dólar favorecendo o mercado.
Em Rio Grande, baixa de 0,73% para a soja disponível, que fechou com R$ 68,00 por saca, e de 1,64% para R$ 71,80 para o produto da safra nova.
Clima nos Estados Unidos
Para o analista de mercado Steve Cachia, da Cerealpar, os fundamentos de clima nos Estados Unidos e as notícias que chegam sobre o assunto diariamente devem ser os principais influenciadores do mercado internacional de grãos pelo menos até meados de agosto. E a situação agora não é favorável para a cultura no país.
Para a próxima semana, as previsões indicam mais chuvas fortes para o Meio-Oeste e para Grandes Planícies, renovando o risco de inundações nessas áreas, as quais são importantes produtoras de grãos. Algumas regiões já enfrentam essa rodada de intensas precipitações desde o início de maio. Determinadas localidades podem receber mais de 150 mm de chuvas nos próximos dias, até segunda-feira (15), segundo explica o meteorologista sênior do instituto norte-americano AccuWeather, Alex Sosnowski.
“Uma trégua no padrão chuvoso que foi observada no início desta semana foi insuficiente para adiar ou aliviar o aumento de novos rodadas de chuvas fortes e o risco de cheias nos próximos dias”, disse Sosnowski.
De acordo com o último relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), até o último domingo (8), o plantio da soja já havia sido concluído em 79% da área, contra 86% do mesmo período do ano passado e 81% da média dos últimos cinco anos. E essa diferença é claro reflexo das adversas condições de clima das últimas semanas. Novos números atualizados chegam na próxima segunda-feira (15).
O atraso em determinados estados, porém, era ainda mais expressivo, como Iowa, por exemplo, onde a semeadura já havia sido feita em 78% da área, contra 97% de 2014, e no Kansas, o índice desse ano era de 21% contra 81% do ano anterior. No Missouri, este ano o total era de 23% contra 80% na temporada anterior. Assim, já começam a ser noticiadas em sites internacionais a possibilidade dos campos norte-americanos em diversas localidades sofrerem a necessidade de serem replantados.
Com esse quadro preocupando, as últimas baixas em Chicago, ainda de acordo com os analistas, foram motivadas por fatores técnicos e um movimento de realização de lucros por parte dos fundos de investimento que buscam um melhor posicionamento diante da espera pelos próximos meses de desenvolvimento da safra norte-americana.
“Se no final de semana chove, no início da semana seguinte mercado cede, se não chove, mercado se anima e tenta especular algum estresse nas lavouras. E isso dá o tom para a semana, além da atenção necessária às previsões mais alongadas que saem periodicamente”, explica Steve Cachia.
Números do USDA
O boletim mensal do USDA chegou na última quarta-feira (10) e os números foram recebidos com pouca animação pelo mercado em Chicago. As informações vieram confirmando as expectativas do mercado de estoques menores nos Estados Unidos, no mundo e de uma demanda ainda aquecida, como explica o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
O departamento reduziu sua estimativa dos estoques finais americano de 9,53 para 8,98 milhões de toneladas, abaixo das expectativas do mercado e reviu as exportações da safra 2014/15 para pouco mais de 49 milhões de toneladas. A estimativa dos estoques finais da safra 2015/16 dos Estados Unidos passou de 13,61 milhões para 12,93 milhões de toneladas. O esmagamento da oleaginos nos EUA também foi revisado para cima.
O USDA trouxe ainda um aumento de 1 milhão de toneladas na safra velha da Argentina e na produção global da temporada 2014/15, porém, reduziu os estoques. O mesmo aconteceu para o ciclo 2015/16. Para o Brasil, manutenção em 94,5 milhões para a safra atual e em 97 milhões de toneladas para a nova safra.
Paralelamente, o departamento americano informou ainda, em seus boletins semanais de vendas para exportação, que o total de soja comprometido pelos EUA na safra 2014/15 passa de 50 milhões de toneladas.
Na semana que terminou em 4 de junho, as vendas de soja somaram 554,3 mil toneladas. Foram 165 mil toneladas da safra velha e mais 389,3 mil da nova. Assim, o volume de soja já comprometido pelos EUA para exportações é de 50.263,2 milhões de toneladas, ou seja, 2% maior do que a última projeção do USDA para as vendas de todo o ano comercial – que se encerra em 31 de agosto somente – de 49,26 milhões de toneladas.
Ainda segundo Brandalizze, são números como esses que indicam uma demanda ainda muito aquecida e presente no mercado, com os compradores ativos e os produtores ainda reticentes e cautelosos para voltar às vendas nas principais origens mundiais, sendo Brasil, Argentina ou Estados Unidos.
E assim, o quadro reflete ainda uma necessidade de o mercado se ajustar a essa situação, não só para a soja em grão, mas para todo o complexo, já que o consumo de farelo e óleo, ainda de acordo com o consultor da Brandalizze, também deverão aumentar.
Dólar
Nesta sexta-feira (12), o dólar fechou em alta frente ao real. A moeda norte-americana registrou uma alta de 0,39% e ficou em R$ 3,1181 na venda. Porém, na semana, a divisa acumulou uma baixa 1,03%. E os últimos dias também foram de volatilidade nesse mercado, o que refletiu em oscilações acentuadas também nos preços da soja formados no Brasil.
É opinião comum entre os analistas que os picos do dólar, diante dessa falta de direção bem definida para os preços da soja em Chicago – típica de um mercado climático -, podem criar boas oportunidades para vendas de soja no Brasil, principalmente com a moeda mais próxima dos R$ 3,20.
“Há um diferencial dos prêmios e, principalmente do câmbio, que trabalha em um mercado de forma linear ou mantendo a desvalorização da moeda conforme inflação ou taxa de juros. Portanto, se temos um câmbio em R$ 3,10 hoje, para abril ou maio do ano que vem ele estará entre R$ 3,45 e R$ 3,48, então, aí está a grande diferença entre safra nova e safra velha em reais”, explica Camilo Motter, analuista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais.
E o andamento do dólar conta, no mercado internacional, segue observando o desenrolar da situação da dívida da Grécia, e a discussão pela primeira vez na União Europeia de um possível default por parte do país. “A situação na Grécia é uma novela. Ninguém sabe direito o que vai acontecer, então você busca proteção”, afirmou o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, à agência de notícias Reuters.
Ainda segundo a agência, no Brasil o foco está no futuro da taxa básica de juros, a qual poderia voltar a subir, além da avaliação da instabilidade política e econômica do país. Além disso, a intervenção do Banco Central no andamento do câmbio também tem caminho incerto e é acompanhada de perto pelos investidores.
“O mercado precisa colocar na conta que os juros não vão parar de subir tão cedo e que isso traz capital para o Brasil, apesar de toda a pressão vinda lá de fora”, disse o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira também à Reuters.
Como orientou Vlamir Brandalizze, é importante que o produtor siga acompanhando essa variação da taxa cambial com a possibilidade de se posicionar da melhor maneira possível no meio dessa volatilidade. “Ele tem que estar atento para não ficar vendido em dólar barato e comprado em insumos em dólar alto”, disse.
Fonte: Notícias Agrícolas