Soja: Mercado testa recuperação na sessão desta 5ª em Chicago após pressão do USDA
Na sessão desta quinta-feira (13), os preços da soja parecem testar uma recuperação após a despencada de ontem. Por volta das 8h (horário de Brasília), os principais vencimentos da oleaginosa operavam com ganhos de mais de 9 a 10 pontos e o contrato novembro/15, referência para a safra americana, era cotado a US$ 9,19 por bushel.
Ontem, os preços recuaram mais de 60 pontos depois da chegada dos novos números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em seu tradicional relatório mensal de oferta e demanda. Porém, alguns analistas – nacionais e internacionais – já sinalizavam essa tentativa de recuperação e retomada de alguns patamares importantes para as cotações.
Passada a divulgação do reporte, os traders devem agora terminar de digerir e entender os números que os surpreenderam e voltar-se aos fundamentos do mercado, principalmente o clima no Meio-Oeste americano. Além disso, têm de trabalhar ainda com as informações do financeiro e, nesta quarta, com uma nova desvalorização da moeda chinesa.
Veja como fechou o mercado nesta quarta-feira:
Os preços da soja despencaram na sessão desta quarta-feira (12) na Bolsa de Chicago e fecharamo pregão perdendo mais de 60 pontos. O mercado foi severamente pressionado pelos números divulgados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) que apontaram, contrariando as expectativas divulgadas nos últimos dias, um aumento na produção, produtividade e estoques dos Estados Unidos na safra 2015/16.
A produção de soja dos EUA foi estimada em 106,58 milhões de toneladas, contra 105,73 milhões estimadas em julho e de expectativas dos traders que variavam, em média, de 100 milhões a 103 milhões de toneladas. a produtividade norte-americana foi revisada para cima e passou de 52,17 para 53,17 sacas por hectare. Ao mesmo tempo, o USDA reduziu sua perspectiva para a área plantada – de 34,44 milhões para 34,12 milhões de hectares – e de área colhida – de 34,16 milhões para 33,79 milhões de hectares.
O departamento reportou ainda um aumento também nos estoques finais da safra nova para 12,78 milhões de toneladas, contra o volume de 11,57 milhões trazido no reporte anterior. Além disso, reduziu ainda as exportações dos EUA de 48,31 milhões para 46,95 milhões de toneladas. Já para o esmagamento americano, uma pequena elevação de 50,1 milhões para 50,62 milhões de toneladas.
Para Mário Mariano, analista de mercado da Novo Rumo Corretora, os números trazidos pelo USDA vieram dentro de suas expectativas uma vez que, apesar dessa “consciência coletiva” apostar em uma safra média de 101 milhões de toneladas, o boletim semanal de acompanhamento de safras que trouxe uma manutenção do índice de lavouras de soja em boas ou excelentes condições nos EUA na última segunda-feira (10) em 63% já indicavam que o número poderia ser maior. E isso justifica ainda, segundo o analista, esse rendimento estimado também mais alto para a oleaginosa.
Nesse mesmo boletim da última segunda, a produtividade média da soja foi estimada em 52,27 sacas por hectare (46,1 bushels por acre), maior do que na semana anterior. “Minha expectativa era de baixa, entretanto, não esperava esta queda tão forte em uma única sessão”, disse Mariano.
Para Camilo Motter, analista de mercado e economista da Granoeste Corretora, os números surpreenderam e o mercado irá precisar agora acompanhar o clima e contar com alguma irregularidade climática para encontrar espaço para uma recuperação. Sobre a demanda podendo se intensificar diante de preços mais baixos, Motter diz que ela “não deve reagira a ponto de recuperar os preços neste momento. Acredito em mudanças positivas com alguma irregularidade climática”.
O USDA trouxe ainda, em seu boletim de agosto, uma redução na estimativa para as exportações de soja dos Estados Unidos nesta nova temporada. O total foi de 48,31 milhões a 46,95 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, o relatório apontou uma forte alta para as exportações brasileiras, as quais foram projetadas em 54,5 milhões de toneladas, contra as 50,75 milhões reportadas em julho.
“Acredito que a aposta do USDA (para as exportações maiores do Brasil) se dá pelo câmbio mesmo. O país se torna mais competitivo”, diz o analista da Granoeste. “Entre as projeções – que eram altistas – e o relatório em si, a verdade é que o mercado acredita mais no relatório, tanto que caiu o que caiu”, completa.
Mercado Financeiro, Dólar e os preços no Brasil
“O dia foi de susto duplo (para o mercado de grãos) nesta quarta-feira”, disse o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting ao se referir ao andamento das cotações da soja não só em Chicago, mas também no Brasil. Afinal, além das baixas de mais de 60 pontos para as cotações em Chicago, o mercado interno enfrentou também um dia de baixa para o dólar frente ao real.
Assim, os preços da soja no porto de Paranaguá, por exemplo, terminaram o dia sem referência, enquanto em Rio Grande o produto disponível fechou o dia com R$ 76,50, caindo 6,71% e o futuro – entrega maio/16 – ficou em R$ 77,00, com queda de 3,75%. Santos também ficou sem cotação nesta quarta.
No interior do país, as praças que não apresentaram estabilidade nesta sessão, exibiram baixas de mais de 4%, como foi o caso de Ubiratã e Londrina, ambas no Paraná, que fecharam o dia com R$ 63,00 por saca.
O dólar, nesta quarta-feira, caiu 0,67% para encerrar em R$ 3,4744 e, segundo analistas, refletiu a última informação da agência de classificação de risco Moody’s, que atribuiu a perspectiva “estável” à nota de crédito do Brasil. “Boa parte do mercado já esperava que a Moody’s rebaixasse o Brasil, mas a maioria imaginava que a perspectiva seria ‘negativa'”, explicou o superintendente de câmbio da corretora TOV, Reginaldo Siaca à agência de notícias Reuters.
Além disso, a moeda americana devolveu, também no mercado internacional, parte dos ganhos da véspera, diante das informações sobre a divisa da China. O país autorizou, pela segunda vez em dois dias, uma nova desvalorização do iuan e a informação chegou surpreendendo novamente os investidores. E, de acordo com analistas internacionais, pesou também sobre os negócios com as commodities.
Entretanto, FMI (Fundo Monetário Internacional) já saudou a nação asiática pela medida afirmando esse ter sido “um bom passo para a abertura e flexibilização do mercado de divisas”.
Para Vlamir Brandalizze, esse também é um fator de efeito passageiro sobre os preços na medida em que o mercado começa a entender que a demanda por alimentos básicos na nação asiática é crescente e não pode parar.
“Foram 3% de desvalorização da moeda (chinesa). Se acompanharmos, o Brasil tem flutuado cerca de 2% ao dia para cima, para baixo, então, não é essa flutuação de 3, 4% na moeda que vai acabar afetando a demanda de alimentos básicos na China – que são alimentos baratos – como derivados da soja, milho, arroz, ração, carne de frango, ovos, leite. Todos esses alimentos que têm potencial de crescimento não serão afetados. O poder de compra da moeda vai cair, mas não muito, e temos que considerar que soja e milho hoje estão baratos”, diz o consultor.
Fonte: Notícias Agrícolas