Soja: Dólar acumula forte alta na semana e preços no Brasil sobem mais de 4%
Na última sessão desta semana, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago fecharam o dia com ligeiras baixas entre os principais vencimentos, depois de caminhar durante todo o tempo de lado. Os últimos dias para as cotações da oleaginosa foram marcados por intensa volatilidade e, no balanço semanal, o resultado também ficou negativo.
Entre as posições mais negociadas, as baixas superaram 2%. O contrato novembro/15 terminou a semana valendo US$ 8,67 por bushel, recuando 2,15%; o janeiro/16 perdeu 2,36% para US$ 8,71 e o março/16, que também fechou com US$ 8,71, caiu 2,38% nos últimos dias.
Segundo explicam analistas, não só a volatilidade, mas a pressão sobre os preços tem base em três principais fatores: o andamento do mercado financeiro, a conclusão e as expectativas sobre a nova safra dos EUA, além da postura dos produtores – tanto norte quanto sulamericanos – em relação às vendas.
Além disso, a próxima semana é mais curta e chega com novo boletim mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Na segunda-feira, 7 de setembro, não há negócios na Bolsa de Chicago em função do feriado do Dia do Trabalho nos EUA, bem como no Brasil, com o feriado do Dia da Independência. O reporte atualizado do USDA, por sua vez, será divulgado em 11 de setembro.
Mercado Brasileiro: Poucos negócios e suporte do câmbio
No Brasil, apesar do suporte desse dólar mais alto frente ao real, a semana foi de poucos negócios. Afinal, os ganhos que vinham sendo registrados pela moeda norte-americana acabavam compensados pelas baixas registradas em Chicago.
Somente nesta sexta-feira, a divisa fechou o dia com fortíssima alta de 2,68% para R$ 3,860, maior valor desde 23 de outubro de 2002, segundo informou a Reuters. Na semana, o ganho acumulado é de 7,68% e reflete, principalmente, a situação do conturbado quadro político e econômico do país, além da turbulência do cenário internacinonal.
Com isso, as altas no Brasil foram bastante expressivas não só nos portos – com ganhos de mais de 4% – quanto no interior do país, com ganhos que passaram dos 6%. Os prêmios ainda elevados complementaram o cenário, bem como os vendedores retraídos e uma demanda ainda aquecida.
Em Rio Grande, a soja disponível, na semana, subiu 2,12% para R$ 81,80, enquanto a futura avançou 4,87% para alcançar o mesmo valor. Em Paranaguá, alta de 2,56% no disponível e de 5,33% para, respectivamente, R$ 80,00 e R$ 79,00 por saca.
EUA: Conclusão da safra e evolução dos negócios
Nos Estados Unidos, a safra 2015/16 está quase concluída e, por hora, não parece haver um cenário climático de ameaça às lavouras norte-americanas. A colheita deve começar em algumas semanas e essa proximidade dos trabalhos de campo é um dos principais fatores de pressão sobre as cotações praticadas em Chicago.
“Nessa época do ano, nos EUA, é muito natural uma queda. (…) E essa chegada da safra no mercado americano faz com que o produtor se prepare para cumprir alguns compromissos que ele se propôs a cumprir agora. Então, mesmo com preço ruim, ele oferta”, explica o consultor em agronegócios, Ênio Fernandes. Apesar disso, o ritmo dos negócios nos Estados Unidos está bastante baixo, uma vez que os atuais patamares de preços estão abaixo dos custos de produção no país.
Para Fernandes, esse quadro deve se estender, pelo menos, até que cerca de 30% da colheita já esteja concluída nos EUA. “Quando passarmos desse índice, o mercado deve buscar caminhos de preços próximos de US$ 9,00”, diz.
Até domingo, as últimas previsões de clima mostram um tempo mais seco no Meio-Oeste americano, porém, com chuvas fortes localizadas em pontos da Dakota do Norte e Minnesota. Já no perío dos próximos 6 a 10 dias, de acordo com o NOAA, serviço oficial de clima do governo dos EUA, indica um tempo um pouco mais frio no oeste do Corn Belt, com chances de chuvas acima do normal para essa época.
“O que se pode observar são condições de clima ainda favoráveis para a soja nesse momento, principalmente àquelas que caminham para a fase de maturação”, diz Bob Burgdorfer, editor e analista de mercado do site internacional Farm Futures.
Mercado Financeiro: China e dólar em foco
No mercado financeiro, uma migração dos investidores de ativos mais sensíveis, como as commodities em geral, e partindo para outros mais seguros foi bastante comum. O cenário de incertezas sobre a economia da China – com consequentes quedas no mercado de ações do país – esteve bastante presente entre os negócios e levou até mesmo o FMI (Fundo Monetário Internacional) a alertar para um risco de contágio em outras economias.
“Os riscos se inclinam para o lado negativo, e uma materialização simultânea de alguns destes riscos implicaria uma perspectiva muito mais fraca”, afirmou a nota, preparada para a reunião do G20 que acontece em Ancara, na Turquia, entre sexta-feira e sábado. O reporte indica ainda um dólar mais forte frente à uma depreciação da cesta de moedas emergentes, além da baixa das commodities. Em julho, o FMI reduziu sua projeção para o crescimento mundial para 3,3% neste ano de 2015.
Como noticiou a agência Reuters, o fundo afirmou, no entanto, que a nação asiática deve manter suas reformas que têm o objetivo de “liberalizar sua economia, apesar das oscilações do mercado. Na nota, o FMI diz que “as recentes correções do mercado de ações não devem desencorajar as autoridades a continuar com as reformas para dar aos mecanismos de mercado um papel mais decisivo na economia, eliminar as distorções e fortalecer as instituições”.
“Há uma contínua valorização do dólar no mercado internacional. O dólar não está subindo só sobre o real, mas em relação às moedas de diversos países, principalmente o euro, e de todas as moedas de países emergentes”, diz o consultor de mercado Carlos Cogo, da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica.
E esse dólar mais elevado acaba por reduzir a competitividade da soja norte-americana e agindo, portanto, como outro fator de pressão sobre as cotações em Chicago. A demanda, apesar de ainda muito forte, como explica Cogo, está focada em um produto mais barato, como a soja brasileira, e acaba se distanciando, mesmo que momentaneamente, da norte-americana.
Fonte: Notícias Agrícolas