Morreu, aos 80 anos, António Augusto Fagundes, um dos maiores tradicionalistas do Rio Grande do Sul. Nico, como era chamado, estava internado no hospital Ernesto Dorneles há cerca de um mês, por conta de uma infecção respiratória.
Filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes, Nico Fagundes marcou sua trajetória aqui no RS como apresentador do programa Galpão Criolo da RBSTV. Nico nasceu em Inhanduí, no interior do município de Alegrete, local de tradicionais famílias campeiras da fronteira.
Foi escoteiro e fundador, subchefe e chefe da Tropa “Anhangüera”. Na época de estudante destacou-se como poeta e declamador. Em 1960, ingressou na Faculdade de Direito de Porto Alegre. No mesmo ano, casou-se com Marlene Nahas.
Trajetória no Galpão Criolo:
A trajetória do Galpão Crioulo começou em Maio de 1982. Desde então, passaram-se 30 anos sob a liderança de Nico, e foram ao ar mais de 1.500 edições. Com o cenário totalmente reformulado se despediu em 2012 na festa dos 30 anos, em um projeto concebido pelo arquiteto Bernardo Zortea. Aproximadamente 7 mil pessoas presenciaram as atrações, com convidados que mostraram o melhor da história do Galpão Crioulo.
Nico Fagundes sempre deu a devida importância à dupla ligação da cultura gaúcha com o outro Brasil e com os países do Prata. Tornou-se, assim, com o tempo e apoiado em uma biblioteca preciosa, um estudioso sério, respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul, no Uruguai e na Argentina, conferencista bilíngue e autor de inúmeras obras. Também foi poeta.
Carreira:
Nico começou a carreira jornalística em 1950, aos 16 anos, no jornal “A Gazeta de Alegrete”, o mais antigo do Rio Grande do Sul, nas funções de cronista e repórter. No mesmo período começou a atuar na Rádio ZYE9 — Rádio Alegrete, apresentando programas humorísticos e gauchescos. Foi secretário dos Cadernos do Extremo Sul, publicações que sob a direção de Helio Ricciardi, lançou diversos poetas da cidade de Alegrete.
Em 1954, mudou-se para Porto Alegre, ingressando em seguida, por intermédio do poeta Lauro Rodrigues, no “35”, Centro de Tradições Gaúchas, o CTG. No mesmo ano, tornou-se redator do Jornal “A Hora”, no qual atuou durante muitos anos com a página “Regionalismo e Tradição”. Em 1955, passou a fazer parte do Instituto de Tradições e Folclore da Divisão de Cultura do Estado. Durante oito anos fez formação em folclorismo, especializando-se em Cultura Afro-gaúcha.
Tornou-se professor de danças folclóricas e literatura gauchesca no Instituto de Tradições e Folclore. Viajou para a Europa como sapateador do Grupo Gaudérios, morando em Paris por quatro meses. Iniciou pesquisas de indumentária gaúcha, tornando-se a maior autoridade sobre o assunto no Rio Grande do Sul.
Foi contratado pela TV Piratini para atuar como ator. Foi um dos fundadores do Conjunto de Folclore Internacional, batizado de “Os Gaúchos”, e do qual foi diretor durante 15 anos. Fundou, no Instituto de Tradições e Folclore, a Escola Gaúcha de Folclore, de nível superior, que funcionou durante seis anos. Atuou como titular nas cadeiras de danças folclóricas e indumentária gaúcha. Foi diretor da escola durante seis anos.
No início da década de 1960, conquistou o primeiro lugar em concurso literário promovido pelo Instituto Estadual do Livro, com a obra “Destino de Tal”. Pouco depois passou a trabalhar na TV Tupi. Viajou para Espanha e França, com o conjunto de folclore internacional “Os Gaúchos”, tendo recebido diversos prêmios em festivais de dança folclórica. Escreveu o roteiro do filme “Para Pedro”. Atuou como ator, assistente de direção e consultor de costumes do filme “Ana Terra”.
Escreveu o roteiro, dirigiu e trabalhou como ator no filme “Negrinho do Pastoreio”, com Grande Otelo. Atuou ainda como ator no filme “O Grande Rodeio”, o qual também produziu e dirigiu. Em 1976, ingressou na Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore. Em 1982, passou a apresentar o programa “Galpão Crioulo”, na RBS TV.
Em 1984, passou a apresentar o mesmo programa na Rádio Gaúcha. No mesmo ano voltou a atuar no jornalismo, escrevendo no Zero Hora. Em 1998, comandou em Paris, a apresentação do Grupo “Os Gaúchos”. No mesmo ano escreveu a peça teatral “A Proclamação da República Rio-grandense”.
Ao longo de sua carreira recebeu diversos prêmios, entre os quais, Prêmio Copa Festivales de España, Medalha de Bronze da Televisão Mundial pelo programa “Galpão Crioulo” e o Troféu Guri da Rádio Gaúcha. Recebeu inúmeros prêmios em poesia, canções gauchescas, declamações, danças folclóricas e teses. É autor de mais de 100 músicas, entre as quais, “O canto Alegretense”.
A mudança para Porto Alegre:
Em 1954, Nico se mudou para Porto Alegre e é como poeta que é apresentado ao 35 CTG, por Lauro Rodrigues. E nunca deixou de fazer verso. Tornou-se amigo e companheiro de Waldomiro Souza, Horácio Paz, João Palma da Silva, Amandio Bicca, Niterói Ribeiro, Luiz Menezes, José Hilário Retamozo, Hugo Ramirez, João da Cunha Vargas, ou seja, a fina flor da poesia gauchesca da época, que freqüentava o rodeio do 35 CTG, às quartas de noite e aos sábados de tarde, na Avenida Borges de Medeiros, no quinto andar da FARSUL.
Conhece, então, e torna-se amigo de Jayme Caetano Braun, cujo ingresso no 35 CTG veio a apadrinhar.
Pelas páginas do Jornal A Hora, lançou Jayme Caetano Braun e dois moços que estavam aparecendo com muita força: Aparício Silva Rillo e José Hilário Retamozo. O prestígio que emprestava à obra de outros poetas não fez com que descurasse de sua própria poesia.
Ganhou prêmios e concursos em Vacaria, Alegrete e em Porto Alegre.
Seu primeiro livro de versos chama-se Com a Lua na Garupa e o segundo Ainda com a Lua na Garupa. O terceiro tem o nome de Canto Alegretense, nome tirado da canção famosa cujos versos escreveu. Aliás, neste livro aparecem muitas letras das suas canções mais famosas dentre as 370 gravadas e regravadas por vários intérpretes e parceiros.
Filmes que Nico participou:
O Tempo e o Vento – 1985
Lua de Outubro – 2001
A Cobra de Fogo – 2000
O Negrinho do Pastoreio – 1973
Ana Terra – 1971
Fonte: Clic RBS/Gaúcha
Veja no vídeo, uma de suas poesias.
https://youtu.be/wszHVa5cLxM