Apesar de ainda pressionada, soja busca recuperação e opera em alta em Chicago nesta 4ª feira
Os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago mantêm sua volatilidade e voltam a subir na sessão desta quarta-feira (23) após a expressiva baixa registrada ontem. O mercado segue à procura de um bom posicionamento frente à evolução da colheita nos Estados Unidos e as confirmações da nova safra norte-americana.
Assim, por volta das 8h (horário de Brasília), os principais vencimentos subiam entre 5,50 e 6,75 pontos, com o contrato novembro/15, referência para a safra americana, valendo US$ 8,67, tentando se manter acima dos US$ 8,60 por bushel.
Apesar dessa tentativa de recuperação, no entanto, as cotações da oleaginosa seguem pressionadas e, como sinalizam analistas e consultores de mercado, essa pressão, mesmo que sazonal da chegada da nova soja dos EUA, deve continuar direcionando os negócios.
Veja como fechou o mercado nesta terça-feira:
O dia foi agitado para o mercado da soja nesta terça-feira (22). Enquanto as cotações encerraram o dia com baixas de dois dígitos na Bolsa de Chicago, mais uma disparada do dólar no Brasil puxou os preços da oleaginosa no mercado interno e nos portos. Os ganhos só não foram mais expressivos pelo recuo no quadro internacional, afinal, além do câmbio, as cotações nacionais contam ainda com os elevados prêmios que continuam sendo pagos nos principais terminais de exportação.
No porto de Rio Grande, depois de bater nos R$ 86,00 ao longo do dia, a soja disponível terminou os negócios desta terça-feira com R$ 85,50 e alta de 1,54% em relação ao fechamento desta segunda-feira (21), enquanto o produto da safra nova foi a R$ 85,00 por saca, com ganho de 1,80%. Já em Paranaguá, disponível estável nos R$ 82,00 e alta de 1,85% para a futura, que encerrou o dia valendo R$ 82,50.
No interior do Brasil, boas altas foram registradas e em muitas praças de comercialização o preços da soja disponível já passa dos R$ 70,00 por saca. Em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, o valor fechou a terça-feira com R$ 78,00, subindo 8,33%. Em São Gabriel do Oeste/MS, alta de 2,82% para R$ 73,00 e em Ubiratã e Londrina, no Paraná, alta de 1,53% para R$ 71,00.
Em contrapartida, na Bolsa de Chicago, os principais vencimentos terminaram a sessão perdendo entre 10,75 e 12,50 pontos, levando o contrato novembro/15, referência para a safra americana, a US$ 8,61 por bushel, enquanto o maio/16 fechou o dia valendo US$ 8,74.
Segundo explicaram analistas, a pressão sazonal sobre a oleaginosa na CBOT vêm, principalmente, da chegada da nova e grande oferta dos Estados Unidos na medida em que a colheita da temporada 2015/16 avança. No último boletim semanal de acompanhamento de safras trazido pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) os números mostraram que, até o domingo (20), cerca de 7% da área norte-americana já havia sido colhida, índice em linha com a média dos últimos cinco anos.
Já sobre o índice de condição de lavouras de soja em boas ou excelentes condições, houve um reajuste positivo e passou de 61 para 63% em uma semana, o que também pesou sobre o mercado.
“A colheita nos EUA vai continuar batendo nos próximos dias. É o fato de os produtores estarem já colhendo, estão por enquanto vendendo produto da safra velha, têm uma boa capacidade de estocagem, mas estão pouco vendidos. Ao contrário dos brasileiros, os produtores americanos enfrentam um problema bem diferente que é a valorização do dólar”, diz Carlos Cogo, consultor de mercado da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica.
E essa forte valorização da moeda norte-americana também é fator de pressão sobre as cotações da soja em Chicago. Nesta terça, o dólar não subiu só frente ao real mas à uma série de principais moedas e foi mais combustível para a ampliaçção das baixas, uma vez que o movimento acaba retirando a competitividade dos produtos negociados nas bolsas norte-americanas.
“Hoje, a soja norte-americana é a soja mais cara do mundo. Então, uma soja ultravalorizada para futuros na Bolsa de Chicago isso é, evidentemente, baixista, porque se vê menos demanda pela soja de seu país. Em termos globais, temos uma demanda firme, mas em termos locais, os produtores vão ter que reter sua colheita e esperar”, explica o consultor.
Dessa forma, com o atual quadro formado por esses componentes, Cogo afirma ainda que, mesmo com algum suporte vindo da demanda, o mercado não tem espaço para uma nova disparada forte dos preços neste momento e que, portanto, a oleaginosa deverá continuar sentindo essa pressão e buscando uma acomodação.
Negócios no Brasil
A oscilação da taxa cambial no Brasil, porém, divide as opiniões entre os produtores e os negócios, portanto, continuam ainda travados. Afinal, segundo as orientações de consultores e analistas de mercado, o sojicultor deve avaliar suas dívidas neste momento, além de seus custos de produção, para saber se o atual cenário pode ser realmente encarado como oportunidade.
Em uma nota técnica reportada nesta terça-feira, a Farsul (Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) fez um alerta sobre os atuais preços da soja e a relação com o dólar e para o economista chefe da federação, Antônio da Luz, essa disparada da moeda americana é a responsável por dar ao produtor brasileiro esta sensação de solidez do mercado. Além disso, lembra ainda que a atual crise política, econômica e de confiança no Brasil é a protagonista na oscilação da taxa cambial atualmente.
“No momento em que houver um encaminhamento para as soluções dessas crises, a tendência da taxa de câmbio será de queda. Além do mais, o câmbio costuma ser um dos primeiros preços a serem ajustados, muito antes da recuperação econômica em si”, disse o economista em nota, reforçando a importância de se considerar a elevada volatilidade que carrega a taxa cambial.
Para Carlos Cogo, a alta do dólar deve ser encarada como oportunidade de bons negócios, principalmente para aqueles produtores que tem seus custos fechados em reais e planeja fixar suas vendas na mesma moeda. “O câmbio subiu demais e já está em um ponto muito interessante para se fazer uma fixação de vendas em reais, lembrando que ainda há um atraso grande atraso nas vendas de insumos no Brasil”, diz.
Há ainda, como explicou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, uma parcela dos produtores que ainda apostam em uma alta ainda mais elevada do dólar e, por isso, “utilizam” a soja como um ativo financeiro, e também evitam efetivar novas vendas neste momento. E com isso, os negócios no Brasil em momentos como estes acabam sendo limitados.
“O setor do agro já não acredita mais no real, e aposta na soja como um ativo financeiro”, diz Brandalizze.
Na avaliação do diretor de mercados emergentes do banco internacional Société Générale, ainda de acordo com O Globo, um novo rebaixamento da nota de crédito do Brasil, depois da Standard & Poor’s, poderia levar o dólar a buscar os R$ 5,00 mais adiante.
Fonte: Notícias Agrícolas