Dourados, Chapadão do Sul, Maracaju, Bandeirantes e São Gabriel do Oeste aparecem entre os municípios brasileiros onde o agronegócio causa impactos nocivos à saúde dos trabalhadores e da população por conta do uso intenso de agrotóxicos, apontados por pesquisadores em todo mundo como principal causa da proliferação do câncer. A constatação foi feita no Seminário “Os Impactos dos Agrotóxicos na Sociedade Saúde, Trabalho e Meio Ambiente”, realizado nesta segunda-feira (17), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
Segundo o especialista, pesquisador Doutor Wanderlei Antônio Pignati, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), pesquisas confirmam que a doença está ligada à utilização do agrotóxico nas lavouras. Ele citou as cidades de Lucas do Rio Verde (MT), Rio Verde de Goiás e os municípios sul-mato-grossenses como áreas de risco. “Dourados é grande produtor de algodão com 24 a 30 litros de agrotóxicos por hectare está mergulhado dentro da plantação. Chapadão do Sul também está mergulhado, São Gabriel do Oeste, Bandeirantes e Maracaju, onde todos os córregos e todas as nascentes vão levar a água que vão parar no Pantanal”.
Pignati explica que junto com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foram feitos cruzamentos que confirmaram onde há maior incidência da doença é exatamente os locais com maior produção agrícola e maior uso de agrotóxicos.
Pignati adverte que informações apontam contaminação da água potável em MS e MT. “Criança que mora perto da lavoura vai pior na escola, há também problemas neurológicos e também distúrbios endócrinos”. Ele citou problemas na tireoide, doenças como diabetes, depressão, suicídios e malformação”.
No Brasil, a Fiocruz aguarda financiamento para pesquisas nas áreas da vigilância e saúde. Faltam investimentos no Programa de Analise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimento (Para).
DESAFIOS
O impacto na saúde pública, segundo o pesquisador Luiz Claudio Meirelles, traz comprometimento das futuras gerações. “Impacta sofrimento das pessoas e também impacta o Sistema Único de Saúde (SUS) que tem que tratar essas pessoas. Não existem laboratórios a nível estadual, não tem estrutura para ter conhecimento dos registros. O trabalhador vai adoecendo e não tem atendimento devido. A falta de informações de banco de dados dificulta debate e políticas públicas”, disse Meirelles.
NÃO EXISTE SEGURANÇA
A professora Doutora e pesquisadora do INCA (Instituo Nacional do Câncer) foi categórica ao afirmar que “não existem limites seguros de exposição”. Ela defende uma força maior do Estado na fiscalização, nos investimentos em pesquisas e prevenção, pois diante do perigo “há um alto potencial de prevenção”. Segundo ela, Desde 2008, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo. Em 2012 o Brasil usou em suas lavouras 1 milhão de litros e MS ocupa o 8º lugar no País.
Ela citou como produtos ainda utilizados e que precisam ser tirados do mercado o Malationa; Diazinona; Glifosato e 2 -4D. “O Glifozado e o 2- 4 D são apontados como extremamente nocivos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer”.
A pesquisadora cita a diminuição do sistema imunológico, o nascimentos de crianças com malformação congênita, toxicidade reprodutiva, infertilidade, abortos, mutação (agrotóxicos imitam os hormônios) e o câncer como a segunda causa de morte no mundo como consequências do uso do agrotóxico”. A estimativa feita em 2015 pelo INCA mas que pode ser usado também este ano é de que no Brasil somente em um ano serão detectados 576 mil novos casos de câncer”. “O câncer é um conjunto de manifestações patológicas, doenças celulares invadem outros tecidos e apenas 20% dos casos estão associados a hereditariedade 80% a fatores ambientais”.
O debate foi proposto pelo deputado federal Zeca do PT, membro da Comissão da Agricultura, na Câmara Federal, com os deputados estaduais do PT, Amarildo Cruz e Pedro Kemp. A ação também faz parte da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida “Agrotóxico Mata”.
PREVENÇÃO
– Consumo de alimentos livres de agrotóxicos e a diminuição dos defensivos agrícolas;
– Proibir pulverizações aéreas;
– Proibir no Brasil os venenos proibidos em outros países;
– Equipamento de segurança na forma de astronauta
– Transição agroecológico;
– Dossiê ABRASCO (Associação de Saúde Coletiva)
Fonte: Correio do Estado