Empresa de Campo Grande, suspeita de “pirâmide”, promete lucros com bitcoin
Em pleno período de retração econômica, algum conhecido aparece e te oferece investimento com retorno de 100%. Apesar dos termos difíceis para explicar o “milagre”, geralmente os vendedores abusam da confiança e convencem na base da insistência. É assim que muitos campo-grandenses estão entrando em mais um “esquema” que lembra a Telexfree e já é suspeito de ser mais uma “pirâmide”.
Há relatos de que a propaganda oferece retorno de mais de 100% do valor investido, mas ainda não existem provas concretas de que as promessas da Mineworld, de fato, se concretizem. A empresa alega ter sede em Campo Grande, e jura enriquecer as pessoas “garimpando” bitcoins, uma moeda digital. Um dos sócios do CNPJ usado pela empresa, inclusive, responde à acusação criminal por estelionato, também na Capital de MS.
A reportagem do Midiamax entrou em contato com a empresa para questionar as suspeitas denunciadas por leitores, mas a assessoria de imprensa se limitou a informar que “está tudo legal”. Não houve resposta sobre o suposto uso do discurso de “mineração de bitcoins” apenas como pano de fundo para mais uma rede de pirâmide, nem sobre o processo ao qual um dos sócios responde.
Nas promessas sempre são citados lucros inacreditáveis. A forma de multiplicação dos negócios – e dos rendimentos prometidos – assemelha-se à das pirâmides: modalidade em que os que estão embaixo têm a missão de expandir a atividade, para sustentar os que estão no topo. O caso mais recente de pirâmide, que entrou na mira da polícia e do Ministério Público, foi a Telexfree.
Bitcoins no Paraguai
A promessa de fabricação de dinheiro da Mineworld vem das bitcoins, as moedas do meio digital, que têm caráter internacional e aceitação em todo o mundo virtual, e é facilmente convertida para qualquer moeda.
A Mineworld não é clara quanto a sua atuação na “mineração” ou garimpagem destas moedas virtuais, mas indica que consegue o lucro prometido ao “adicionar registros de transações ao livro razão público da Bitcoin”. Esta explicação da companhia, contida nas aspas acima, contudo, não é precisa para comprovar o lastro destas moedas virtuais, até porque, no mundo real, adicionar novos registros nos bancos centrais sem devida autorização, seria algo como imprimir dinheiro sem valor, para não citar outras ilegalidades.
As tais mineradoras da Minerword estariam em Ciudad del Este, no Paraguai, e na China, conforme informa a empresa. Mas a conversa fica ainda mais complexa. A plataforma oferece planos de até R$ 35 mil, sob a alegação de que este “investimento” será aplicado na compra de potentes máquinas para “garimpar” as tais moedas virtuais. Desta forma, prometem devolver o dobro do valor aplicado.
Investigada no Paraguai
A Minerworld se tornou alvo de investigação da polícia paraguaia em maio de 2017, e é acusada de abrir uma empresa de fachada no país, além de estabelecer contratos sem qualquer respaldo legal. No Brasil, ela opera, até agora, sem nenhuma dificuldade e até tem registro no Ministério da Fazenda. Em sua descrição ela oculta qualquer referência às moedas digitais e informa apenas oferecer suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia de informação.
A suposta empresa apresenta o advogado Cícero Saad, de Campo Grande, como CEO (Chief Executive Officer), ou em bom português: diretor. Ele responde processo de estelionato na Justiça, acusado de fraudar comprovantes de pagamento. Também integram a direção da empresa Hercules Gobbi e Johnes Carvalho. A sede na Capital fica em um edifício empresarial, localizado à Rua 15 de Novembro.
Sede em Campo Grande
A reportagem do Midiamax foi até o local. Há poucos móveis, não há telefone e durante a visita, na segunda-feira (14), apenas quatro pessoas trabalhavam para o negócio divulgado como grandioso. Não há vestígio das máquinas super potentes, capazes de “fazer dinheiro”. Os tais supercomputadores, segundo quem estava na sede, não ficam visíveis porque estão no Paraguai, “onde a energia é mais barata”.
Apesar de todo aspecto “miraculoso” e da falta de clareza quanto à origem do dinheiro prometido, a busca pelo negócio é grande, sobretudo, por parte daqueles interessados em ganhar dinheiro fácil. Segundo a própria empresa, já são 77 mil participantes. Nas redes sociais, há grupos recrutando novos investidores e a abordagem é sempre a mesma.
Um participante da cidade de São Paulo, em conversa gravada com a equipe de reportagem, por telefone, afirmou que as reuniões em Campo Grande são realizadas às quintas-feiras e atraem em torno de 100 pessoas. Para ele, o negócio é seguro, apesar de ainda não ter visto a cor (ou o número virtual) do rendimento prometido.
Alerta no Procon
]Estimuladas nas redes sociais e pela forte crise econômica, o negócio fácil fica ainda mais atrativo, mas de acordo com Marcelo Salomão, titular da Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor (Procon/MS), essas atividades, na maioria das vezes, configuram fraude e oferecem riscos. “A pirâmide seduz, mas não existe milagre. Acabam recebendo uma proposta que não existe”, afirma. “Os riscos são enormes, e quem lucra são os donos, que se sustentam pelos investimentos dos mais fracos. Enriquem do suor, da enganação de quem tentou investir”, alerta.
Midiamax