Análise da OCDE considera prova de matemática, leitura e ciências em 64 países; desempenho melhora, mas inclusão afeta resultado
O Brasil ocupa a 10.º colocação entre os países com o maior porcentual de estudantes com baixo desempenho em provas de matemática, leitura e ciências, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (10) pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Dos 2,7 milhões de alunos avaliados, o País tinha 1,9 milhão de estudantes de 15 anos com dificuldades em matemática básica, além de 1,4 milhão com problemas em leitura e 1,5 milhão, em ciências.
Cruzados, os números indicam que 1.165.231 estudantes tinham dificuldades em cumprir tarefas básicas nas três áreas de conhecimento. Em posições piores que o Brasil estão Catar, Peru, Albânia, Argentina, Jordânia, Indonésia, Colômbia, Uruguai e Tunísia. O relatório intitulado “Alunos de baixo desempenho: por que ficam para trás e como ajudá-los?” baseia-se em dados de 2012 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da própria OCDE.
Quando a análise é feita especificamente em matemática, os brasileiros são sexto com o maior porcentual de estudantes com baixo desempenho – 68,3% dos alunos de 15 anos não sabem o esperado para a sua idade na disciplina.
Dentre 64 países analisados nessa área, estão atrás do Brasil apenas Jordânia (68,6%), Catar (69,6%), Colômbia (73,8%), Peru (74,6%) e Indonésia (75,7%). Outra constatação do estudo é de que o País está no “top 10” de países mais desiguais do mundo quanto à diferença de desempenho entre estudantes de classes sociais diferentes.
Apesar do grande contingente de alunos com desempenho abaixo do esperado, o Brasil é um dos nove países que mais reduziram – em 18% – o número de estudantes com problema na disciplina entre 2003 e 2012, segundo a organização. Também houve redução tímida no porcentual de alunos com baixo desempenho em leitura e ciências.
Inclusão. Parte dos resultados ainda muito negativos do Brasil se deve à inclusão de estudantes no sistema educacional ao longo dos últimos 15 anos, ponderou Alfonso Echazarra, analista da Direção de Educação da OCDE.
Entre 2003 e 2012, o índice de escolarização passou de 65% para 78%. Como a inclusão se dá incorporando alunos que estão na base da pirâmide social, seus primeiros anos de educação são mais problemáticos, por frequentarem escolas com menos recursos.
Nesse cenário, a redução do número de estudantes com problemas de base em matemática, leitura e ciências é um sinal positivo. “O Brasil é um claro exemplo de que o investimento em educação leva a melhores resultados”, explica Echazarra.
Alejandra Velasco, do Movimento Todos pela Educação, disse que os resultados do Brasil são alentadores, apesar de ainda distantes do esperado. “O Brasil não está melhorando sua educação com artimanhas, mas através da inclusão desses estudantes. O que não podemos é deixar que a inclusão seja uma desculpa para justificar a nossa falta de avanço.”
O professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse disse que a melhora do desempenho dos estudantes mais expressiva em matemática do que em leitura é resultado da inclusão. “Leitura recebe grande influência da condição socioeconômica da criança que, quanto mais rica, geralmente tem mais contato com textos escritos. Já o conhecimento em matemática, depende muito mais da escola, do tempo em sala de aula.”
Em nota, o MEC também destacou que é preciso considerar que o País foi o segundo que mais incluiu estudantes no período – 420 mil. O ministério admitiu que “ainda há muito o que fazer” e que mantém os esforços para continuar o processo de inclusão e melhoria.
Para romper o ciclo, a OCDE recomenda que os governos identifiquem os estudantes com baixo desempenho e lhes ofereçam estratégias para recuperação, entre outras propostas.
Fonte: O Estadão