Informativo Fitossanitário da AMPASUL
Confira abaixo o relatório do Programa Fitossanitário de Mato Grosso do Sul, realizado pela AMPASUL no período de 9 a 23 de fevereiro de 2015.
Informativo nº 107
De modo geral a safra de algodão segue muito bem em Mato Grosso do Sul. Com os plantios praticamente
finalizados e as pragas e doenças bem controladas, mas demandando atenção contínua. As tecnologias transgênicas com duas proteínas diferentes, derivadas da Biotecnologia, têm colaborado muito para esta situação de tranquilidade no controle de lagartas e menor uso de agroquímicos, enquanto nas áreas de refúgios (essenciais para a preservação da eficácia do algodão-Bt) a atenção necessária é maior, pois demandam tratamentos fitossanitários.
O período chuvoso do período colocou em risco a pontualidade de alguns tratos culturais e sinalizou para riscos de apodrecimentos de maçãs das lavouras mais velhas, mas com a redução das chuvas intensas nesta semana a situação tende a se normalizar. As equipes de campo das fazendas estão muito mobilizadas para o bom controle do bicudo e atentas para o combate inicial do inseto, como alertado permanentemente pelo Programa Fitossanitário da
Ampasul. Paralelamente, instruir, educar, treinar e qualificar monitores de pragas continuamente é fundamental para o sucesso da atividade e das regiões agrícolas do Estado.
Núcleo 1 – Chapadão do Sul – Eng.° Agr.° Danilo Suniga de Moraes
Em Chapadão do Sul, a quinzena que finda foi muito chuvosa. Praticamente precipitou todos os dias na
maioria das microrregiões deste Município; isto interferiu no progresso da colheita de soja e nos tratos culturais (como adubação de cobertura e manejo fitossanitário) do algodoeiro. Ventos fortes e umidade do solo alta não permitiram períodos adequados para as boas pulverizações, por exemplo.
Foto 1 e 2. Algodão safrinha tem desenvolvido lentamente devido ao período chuvoso, que limita a luminosidade diária, e ele é “castigado” com os eventuais sintomas de fitotoxicidade de herbicidas aplicados para que não escape o melhor estágio de controle de plantas daninhas.
Foto 3. Algodão safra sob chuva ao fundo, uma situação comum nestes últimos dias.
Nesta fase reprodutiva que se encontra o algodão safra, a presença de lagartas do complexo Heliothinae (Heliothis virescens e Helicoverpa spp.), Spodoptera spp. e Chrysodeixis includens tem se intensificado cada vez mais e na ordem de importância citada; nas áreas de refúgio estão sendo realizadas pulverizações praticamente semanais para controle do complexo destas lagartas. Salienta-se que a rotação de modos de ação dos inseticidas é essencial para minimizar riscos de evolução à resistência. O atraso na colheita de soja tem interferência direta nestas situações a campo, pois as lavouras da soja próxima a talhões de algodão servem como fornecedoras de pragas diversas nesta fase, desde percevejos, mosca branca e mariposas comuns à cultura do algodão, pois a reinfestação após os tratamentos fitossanitários se torna muito rápida.
Foto 4 e 5. Mariposa de Heliothis virescens e lagarta da subfamília Heliothinae.
Foto 6 e 7. Lagarta Heliothinae se alimentando do caule da planta: entra pelo ponteiro e se desloca de forma descendente na planta, tirando a dominância apical da planta.
Outro problema fitossanitário atual é o pulgão, comum também na maioria das áreas. Ele tem sido encontrado em todas as fases da cultura e exige uma atenção especial, pois pode causar redução na produtividade, transmitir viroses precoces e tardias em algumas cultivares e interferir diretamente na qualidade da fibra lá na fase de capulhos.
Em algumas áreas do Município, a Equipe da Ampasul detectou a presença de ácaro-rajado (Tetranychus urticae) na fase reprodutiva do algodoeiro e também ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus) em uma lavoura de algodão safrinha ainda com 30 DAE (dias após a emergência), a presença destas pragas pode estar ligada diretamente ao uso indiscriminado de inseticidas piretroides (caso do ácaro-rajado) antes dos 80 DAE, período chuvoso e tempo quente (caso do ácaro-branco) e também uso de fungicidas no período, que acaba eliminando os fungos entomopatogênicos benéficos para o controle biológico das pragas. Geralmente, o ataque de ácaros surge em reboleiras, e é importante que equipe de campo das fazendas identifique e quantifique a dimensão do ataque para consequentemente intervir com o controle, quando necessário.
Foto 8 e 9. Ácaro rajado na face inferior da folha do algodoeiro.
Foto 10 e 11. Sintomas provocados por alimentação de adultos de mosca branca em função de infestação elevada, semelhante a raspagem por trips, o que pode causar alguma confusão de sintomatologia.
O bicudo do algodoeiro, foi detectado na bordadura de uma propriedade, que identificou a postura e danos de alimentação da praga, nesta situação a equipe técnica da fazenda já iniciou mais aplicações para controle do bicudo na propriedade; está sendo realizado o controle com o intervalo entre as pulverizações de cinco dias. Ação importante e necessária para minimizar o avanço populacional da praga. Nesta propriedade, o algodão está com aproximadamente 75 DAE e já tinham sido realizadas as três aplicações de B1, como indicado pelo índice relatado no armadilhamento pré-safra. Cabe lembrar que tratamentos com caldas baseadas em óleos (UBV ou BVO) têm sido as mais efetivas para o controle do bicudo, pois as gotas flutuam mais, são menos suscetíveis ao vento e à evaporação que aquelas aquosas, além de serem menores, o que permite maior densidade de gotas/cm2. Uma aplicação em BVO é adequada se houver neblina homogênea com tamanho de gotas controlado (entre 80 e 150 micras) em óleo vegetal (degomado ou não, com emulsificante) como veículo do princípio ativo, com água para completar o volume de aplicação – todos estes requisitos demandam acompanhamento profissional especializado e não apenas de pilotos de aeronaves. Para UBV a formulação é de pronto uso e devidamente registrada para a praga alvo.
Núcleo 2 – Costa Rica e Alcinópolis – Eng.° Agr.° Robson Carlos dos Santos
De modo geral os algodoais da região presentam um bom desenvolvimento até o momento. Os primeiros talhões semeados com algodão safra na região já estão na fase reprodutiva; a maioria desses talhões está na fase de emissão de flores, sendo fácil a visualização de flores fecundadas (avermelhadas) e flores não fecundadas (brancas), em alguns talhões é possível observar o surgimento das primeiras maçãs. Como a maioria do algodão safra já está na fase reprodutiva, é importante seguir com rigor o Manejo Integrado de Pragas, e ficar atento especialmente com as pragas que afetam as estruturas reprodutivas, pois é nesta fase que ocorre a maior incidência de problemas. Nesta semana foi detectada alimentação de bicudo (Anthonomus grandis) na bordadura e no interior de lavoura de algodão na região.
Foto 13. Diferença entre flor fecundada (à esquerda) e não fecundada (à direita).
No período, as precipitações ocorreram diariamente, fator que interferiu diretamente nos tratos culturais que devem ser realizados ao longo da cultura do algodão, como: adubações de cobertura com nitrogênio, aplicações de herbicidas pós-emergentes, aquelas de jato dirigido, entre outras ações.
Os monitoramentos à campo mostram que no algodão safra, o pulgão está sendo a praga de maior frequência até o momento. Nas últimas semanas os índices de oviposições de Heliothinae diminuíram em relação as semanas anteriores, porém ocorrem infestações de lagartas nas variedades não-Bt, consideradas como refúgio, sendo necessária a intervenção química para o seu controle. Nas variedades com tecnologia WideStrike, alguns produtores já realizaram uma aplicação para o controle de lagarta; por outro lado, nas cultivares que possuem a tecnologia TwinLink não há registros de aplicações para o controle de lepidópteros até o momento (o histórico de uso de Bollgard II, no passado também demonstra a alta eficácia desta tecnologia para Lepidoptera).
Foto 14 e 15. Lagartas presentes em variedades não-Bt – refúgio – na região de Costa Rica.
Em relação ao algodão safrinha (e/ou de segunda safra), o mesmo apresenta um bom desenvolvimento inicial até o momento; os primeiros algodões semeados nessa modalidade já estão entrando na fase reprodutiva, ou seja, quando o algodão emite o primeiro botão floral (B1), algumas fazendas já estão realizando aplicações preventivas em área total para o controle do bicudo. A ocorrência de adultos de mosca-branca é frequente, mas o pulgão é a praga que vem exigindo maior demanda de aplicações para seu controle.
Também neste período, foi realizado no Núcleo o controle de plantas tigueras de algodão as margens das rodovias. A destruição das plantas voluntárias de algodão as margens das rodovias é fundamental para reduzir a população do bicudo na região, pois essas plantas sem tratos culturais adequados, servem apenas para abrigar, alimentar e proliferar pragas e doenças indesejáveis para o sistema; esta operação também contribui para a limpeza destas áreas.
Núcleo 3 – Centro e Sul (São Gabriel do Oeste, Sidrolândia e Aral Moreira). – Eng.° Agr.° Danilo S. Moraes e Robson C. dos Santos
Na Região Sul do Mato Grosso do Sul as lavouras de algodão estão aproximadamente com 105 DAE (dias após a emergência) e já apresentam formação de maçãs próximas ao terço superior da planta, com a proximidade da fase de maturação (cut out). É fundamental que estas áreas estejam com pragas muito bem controladas,como o pulgão e mosca branca que podem vir a prejudicar a qualidade da fibra dos capulhos. As excreções de “melado” realizadas por estes insetos sugadores prejudicam a fibra, manchando-a e deixando-a com alto índice de substâncias açucaradas que interferem no processo da fiação e desqualificam os fardos na hora de comercialização. Na Região Sul, os controles de lagartas e bicudo também precisam de atenção nesta fase.
Foto 16. Algodão prestes a entrar em cut out.
A lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens)se tornou nestes últimos dias a principal praga da cultura na região, pois com a colheita da soja sendo realizada a dispersão de mariposas para o algodoeiro foi intensa; no algodão não Bt (refúgio) o ataque se tornou preocupante, pois como a planta do algodoeiro já fechou a entrelinha e está com aproximadamente 110 cm de altura fica difícil o controle da lagarta da falsa-medideira, o que demanda ótima tecnologia de aplicação e escolhas corretas de inseticidas eficazes.
Foto 17 e 18. Ataque severo da lagarta-falsa-medideira (à esquerda) e colônia de pulgão no ponteiro (à direita).
Os cultivos transgênicos (algodão-Bt) têm se mostrado eficazes no controle da lagarta-falsa-medideira.
Foto 19. Ataque de lagarta falsa medideira em planta não Bt em divisa com plantas com tecnologia Bt.
Como as chuvas constantes estão ocorrendo na região de Aral Moreira, a preocupação está sendo com o surgimento dos primeiros focos de podridão das maças do baixeiro, nota-se que em áreas onde a população de plantas é menor e propiciam que pingos de chuva que atinjam o solo possam respingar nas maças e iniciar o processo de apodrecimento das mesmas é mais intenso, pois, umidade relativa elevada e dias nublados são fatores que juntamente com lesões de origem mecânica, fisiológica ou entomológica favorecem o apodrecimento de maçãs. Os respingos d’água no solo podem carregar uma gama de patógenos para as folhas e maçãs e podem causar o apodrecimento de maçãs. Nas folhas é nítido o aparecimento de mela (Rhizoctonia solani no solo e Thanatephorus cucumeris na folha – mela) como mostra a foto 21 e provavelmente causando o apodrecimento de maçãs. Os respingos d’água podem carregar também outros patógenos habitantes natural do solo, como Fusarium sp., Lasiodiplodia theobromae, Myrothecium roridum, Colletotrichum etc…
Foto 20 e 21. Maças em fase de apodrecimento e a direita folha do terço inferior com sintomas de mela.
Em São Gabriel do Oeste está sendo finalizada a semeadura do algodão safrinha, e até o momento a ocorrência de pragas é baixa, tendo como o fator mais preocupante a presença intensa e constante da mosca branca que dispersam de talhões de soja vizinhos que estão em fase de maturação. Na fazenda produtora de algodão do município foi ministrado um treinamento pelo engenheiro agrônomo Danilo S. Moraes, coordenador do Programa Fitossanitário da Ampasul, sobre as principais pragas e doenças que ocorrem no algodoeiro. O objetivo do treinamento foi qualificar a equipe de monitores de campo da fazenda para a correta forma de identificação de pragas e doenças nas diferentes fases da cultura.
Foto 22 e 23. Algodão safrinha em São Gabriel do Oeste.