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Mato Grosso do Sul 38 anos

cuiabanos-NOVA1No dia 11 de outubro comemora-se o aniversário de Mato Grosso do Sul. Em 2015 são 38 anos de emancipação. Mas, longe de felicitações, os meses que antecederam o 11 de outubro de 1977 movimentaram a imprensa regional e nacional, com os fatos políticos, econômicos e sociais do Norte e do Sul do então estado do Mato Grosso.

Para a professora e historiadora do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Maria Madalena Dib Mereb Greco, a pesquisa em jornais e revistas da época é uma analise enriquecedora, pois traz o dia a dia da época com todas as suas nuances históricas.

“Por meio da imprensa é possível fazer a releitura da história. Essa análise só é possível com um certo distanciamento de tempo. Então é muito bacana ver o Estado hoje, frente a todas as aspirações e projeções feitas à época”, avaliou.

A imprensa de 1977 revela a ofensiva do norte contra o sul e a vontade política de Corumbá se tornar um estado independente. A edição 452 da revista Veja, publicada no dia 4 de maio de 1977, traz uma matéria especial intitulada A Divisão de Mato Grosso. “Por sinal, qualquer disputa envolvendo as praças conflagradas – das partidas de futebol aos concursos de miss, passando pelo número de veículos em circulação – agora coloca em jogo a honra do norte e do sul”, informa.

A edição traz fotos das passeatas e protestos dos cuiabanos e os receios quanto a dificil tarefa de dividir o território e também as dívidas do estado, bem como seus servidores públicos. Do outro lado, a vontade política dos moradores do Sul, que não aguentavam mais ‘sustentar a supremacia cuiabana’, uma vez que eram responsaveis por 75% da arrecadação do estado – que representava 1,3 bilhão de cruzeiros em 1976. Aliada a isso, a sinalização do próprio presidente Ernesto Geisel em favor da criação do novo estado.

Enquanto Campo Grande e Cuiabá fervilhavam, as sessões de cartas eram tomadas de assaltos por leitores contra e a favor. Jornais de todo o estado publicavam poemas e artigos que louvavam a Capital Eterna (Cuiabá), ou recomendavam dividir para multiplicar. Segundo a reportagem da Veja, era movimentada uma verdadeira ‘guerrilha impressa’.

 

Conjuntura local

A redivisão territorial do País, discutida desde a Constituinte de 1823, tomava contornos mais firmes em 1977. A expectativa aumentou com a convocação do então governador de MT, o sergipano José Garcia Neto, ao qual foi determinado pelo próprio Geisel, em pessoa, executar um minucioso levantamento da situação, em que foram colocados dezenas de técnicos do governo do estado a campo.

O cenário político era um dos mais agitados. Sob fogo cruzado, a maioria dos políticos esqueceram momentaneamente do Arena e do MDB para entrar em sintonia com o eleitorado. Na Assembleia Legislativa 11 nortistas e sete sulistas dividiam a bancada. “Essa vantagem parlamentar obtida em 1974 pelos 440.000 eleitores do norte contra os 325.000 do sul é compensada pela maioria sulista de três senadores contra nenhum da região adversária. E cada lado elegeu quatro deputados federais. Alguns parlamentares mais cautelosos declaram-se apenas a espera da decisão do presidente Geisel”, informava a reportagem.

Economicamente a dúvida girava em torno dos gastos para a implantação da sede do novo governo – que de saída estava previsto em 6 bilhões de cruzeiros – e do ranço dos sulistas, os quais queixavam-se de sustentar o desenvolvimento da capital Cuiabá. Para os conservadores, surgiriam dois estados inviáveis, onde as despesas correntes superariam as receitas. Para os entusiastas, o sul era um ‘cheque ao portador’ que deveria ficar na região para desenvolvimento dos seus.

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O povo

O grande criador da rádio brasileira, Roquete Pinto, descrevia de forma resumida as característica físicas dos habitante do estado à época. “O cuiabano é braquicéfalo, abugralhado, de cor parda”.

Já o sul era nitidamente influenciado pela chegada dos primeiros migrantes do sul do país, com os trilhos da estrada de ferro Noroeste do Brasil em 1916. “Os traços fisionômicos trazem a presença de paulistas, gaúchos, paranaenses e das cada vez mais numerosas colônias estrangeiras espalhadas pela região, atraídos pela vertiginosa escalada da agricultura sulista”.

 

Autoridades

Os pronunciamentos, as personalidades do norte se valiam com frequência das façanhas históricas da região, as quais podiam ser ouvidos quase que diariamente em Cuiabá, orgulhosa de seus 258 anos de vida e de seu papel durante a epopeia das bandeiras. “Nós empurramos para oeste a linha do Tratado de Tortesilhas e garantimos as fronteiras durante a Guerra do Paraguai”, rememoravam os articuladores da ofensiva.

Já os líderes sulistas se mantinham em recuo tático em uma disciplinada campanha de apoio ao desmembramento, defendida por Geisel. A Liga Sul-Mato-grossense, criada em 1932 e reativada em 1977, era encabeçada pelo ex-secretário e Agricultura e pecuarista, Paulo Coelho Machado, para quem uma das preocupações principais era disciplinar as comemorações. E para marcar presença nos 88 anos de Campo Grande, engordaram uma lista de donativos para a construção da estátua do ex-prefeito Vespasiano Barbosa Martins, que entre julho e outubro de 1932 chefiou por 82 dias um governo provisório de Mato Grosso do Sul.

O ex-prefeito de Campo Grande, Levy Dias, fazia questão de frisar que em quatro anos de mandato esteve no Palácio dos Paiaguás, sede do Governo de Mato Grosso, somente uma vez. Todas as declarações à imprensa eram feitas sob fogo cruzado. Quando as autoridades decidiam se manifestar, o faziam de forma fulminante. O Secretário do Interior e Justiça, Edward Reis Costa, chegou a afirmar que ‘a grande imprensa estava sendo subvencionada pela gente de Campo Grande e por isso levava vantagem’.

O deputado estadual Milton Figueiredo, da Arena Cuiabana, afirmava “o presidente da República , ao assinar a mensagem de divisão, estará cometendo um crime contra a pátria”. Já a chefe da torcida feminina do Operário de Campo Grande, Clenise, foi a rádio dizer que “aqui é que está a grana. O pessoal de Cuiabá não quer a divisão para não passar fome” .

“Para os campo-grandenses, parece mais importante consolidar a unidade do próprio sul, ameaçada durante anos por dissidentes de Corumbá, a segunda maior cidade sulista, que reivindica seu próprio território – um estado do Pantanal. Restam focos de descontentamento em outras enciumadas candidatas a capital sulista, sobretudo em Dourados e Maracaju, dois fervilhantes celeiros agrícolas. Na semana passada, de qualquer modo, reunidos em Aquidauana no I Congresso de Vereadores do Sudoeste, mais de 10 representantes municipais subscreveram um telegrama que solicitava do presidente Geisel a efetiva e imediata divisão territorial de Mato Grosso. E, apesar de não se manifestarem oficialmente de forma clara, todos os 50 municípios sulistas hoje partilham a certeza de que a divisão é apenas uma questão de tempo”, previa a Veja em maio de 1977.

Fonte: Notícias MS

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