Petrobras estuda reduzir o preço dos combustíveis nos próximos dias, de forma a alinhar mais os valores aos preços internacionais, que estão mais baixos que o da empresa, dizem duas fontes a par do assunto.
Os cálculos já estariam sendo feitos, e a ideia é que a medida tenha efeito na inflação calculada pelo IPCA deste ano, que segue mais próxima do teto da meta do Banco Central (BC). Já existia uma discussão na estatal anterior à reunião do Copom desta quarta-feira (18), que definiu a taxa de juros, com aumento de 0,25 ponto, para 10,75% ao ano. A ideia seria fazer o anúncio após a divulgação da Selic pelo comitê, como forma de sinalizar que, apesar da alta da Selic, há um movimento favorável à queda de preços na economia, apurou o Valor.
Procurada para se manifestar, a companhia diz que não antecipa decisões de mudanças em preços.
Há uma intenção de que o anúncio ocorra com o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Brasil, mas como Lula viaja no dia 22 para participar da 79ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, existe a possibilidade de que só se bata o martelo no seu retorno, para depois comunicar ao mercado, diz uma fonte.
Uma segunda fonte a par do assunto disse que havia uma discussão para a divulgação já nesta sexta-feira (20), antes da viagem de Lula, mas isso não está fechado ainda.
O retorno do presidente a Brasília está previsto para 25 de setembro.
Uma das fontes consultadas pela reportagem disse ontem que a decisão do recuo nos preços no curto prazo já está tomada na estatal, e a discussão envolve uma queda da gasolina entre 5% e 7%, e do diesel, de 7% a 10%.
No começo do mês, a CEO da estatal, Magda Chambriard, disse que estava “confortável” com o nível dos preços do diesel e da gasolina e não pretendia mudá-los por enquanto. Na prática, ficar com os preços acima da média internacional por determinado período ajuda a recompor o caixa da companhia e as margens, e reduções de preços reduziriam a receita do governo.
Com isso, o mercado entendeu que, naquele momento, não haveria modificações.
Mas, de algumas semanas para cá esse debate na estatal foi tomando a direção de um maior alinhamento global, apurou o Valor.
Os preços de combustíveis da Petrobras estão mais caros do que os praticados no exterior, conforme cálculos consultados pelo Valor Econômico, o que indicaria um espaço para a estatal anunciar cortes. Conforme a StoneX, o diesel da estatal está R$ 0,25, ou 7,1%, por litro mais caro do que o preço do Golfo americano.
“Este é o primeiro momento desde janeiro deste ano em que o diesel com origem no Golfo americano está mais competitivo do que a Petrobras, situação proporcionada pelas quedas expressivas de petróleo e diesel no mercado internacional, e uma queda recente das máximas do câmbio”, afirma Thiago Vetter, analista da consultoria.
Segundo Vetter, para gasolina, o preço da Petrobras está R$ 0,10, ou 3,5%, por litro acima do internacional: “Nesse caso, não acho que indique momento de modificação de preço, desconsiderando qualquer aspecto além do preço na tomada de decisão.”
A última vez que a Petrobras fez uma mudança nos preços dos combustíveis foi em 9 de julho deste ano, quando a estatal aumentou a gasolina em R$ 0,20. Essa foi a primeira revisão da companhia em 2024. O último ajuste do preço do diesel foi em 26 de dezembro de 2023, quando houve uma redução de R$ 0,30.
Segundo a StoneX, o preço do diesel da Petrobras estava acima dos internacionais em R$ 0,29 por litro da última vez em que a estatal realizou corte. “Isso indica que a empresa pode estar avaliando uma movimentação neste derivado para as próximas semanas”, diz Vetter.
Nos cálculos da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a gasolina da Petrobras está R$ 0,11 acima do preço internacional, ou 4%, e o diesel, R$ 0,12, ou 3%.
Para a formação dos preços de combustíveis, a Petrobras utiliza uma nova política desde maio de 2023 com variáveis que não são totalmente abertas ao mercado, o que vem sendo criticado desde então pode agentes do setor pela falta de transparência. Antes disso, a companhia era alinhada à paridade de importação.
Dados de inflação desta semana mostram que a mediana do relatório Focus para o IPCA de 2024 subiu pela nona semana consecutiva, de 4,30% para 4,35%, aproximando-se de forma mais rápida do teto da meta, de 4,50%. Um mês antes, o índice estava em 4,22% no ano.
Na tomada de decisão da Selic, é preciso considerar que atividade econômica permanece robusta, e o mercado já trabalha com uma reaceleração da inflação em setembro, com a inflação de 12 meses de novo superando o teto da meta.
Fonte: Valor Econômico