Estatísticas mostram que nove em cada dez mortes poderiam ser evitadas. Falar, quebrar tabus, superar estigmas e senso comum, alertar a população e conscientizar são tarefas cotidianas, mas que, neste mês, ganham sentido especial: é o Setembro Amarelo, movimento para prevenção do suicídio. A data (10 de Setembro) tem objetivo de sensibilizar e conscientizar a população sobre os altos índices de suicídio no mundo e que essas mortes podem ser prevenidas. “A melhor forma de entender o suicídio não é estudando o cérebro, e sim, as emoções. As perguntas a fazer são: “onde dói”? e “como posso ajudá-lo”?, são as palavras do Dr. Edwin Schneidman, psiquiatra norte-americano, considerado autoridade no assunto.
Para psicóloga, Michele Scarpin, Gerente da Rede de Atenção Psicossocial da Secretaria de Saúde do Estado, o “Setembro Amarelo” é o ano inteiro. Desde 2017 o Governo vem adotando medidas de prevenção e cuidados, de acordo com as diretrizes organizacionais do Ministério da Saúde para ações de prevenções em seis Estados brasileiros, entre eles Mato Grosso do Sul (que aparece nas pesquisas em terceiro lugar. Rio Grande do Sul e Santa Catarina são, respectivamente, o primeiro e segundo Estados com maior número de ocorrências).
Informações e abordagens corretas
O primeiro passo foi a criação de um Comitê Gestor, composto por 40 profissionais de diversas áreas da saúde. Em seguida foram escolhidos 15 municípios – escolha baseada em índices de suicídio – onde foi implantado o programa de prevenção, que consiste na capacitação dos profissionais e coleta de dados. De acordo com a psicóloga, antes os dados eram incipientes, porque a maioria dos profissionais de saúde não conhecia e não sabia da necessidade de fazer a notificação correta na ficha do paciente. E isto, segundo ela, tem muito a ver com tabu que cerca o tema. “Muitas vezes a própria família não quer notificar o suicídio – ou a tentativa de suicídio- porque teme que isto se torne um problema policial”. Por esta razão, quando se fala em números não se pode concluir que houve aumento no número de ocorrências. Mas o número de notificações é que está aumentando.
Este é um dado positivo que reflete o trabalho que está sendo feito nos municípios pelos profissionais da Secretaria de Estado de Saúde. Durante três dias, especialistas nas áreas de psicologia, assistência social, psicopedagogia, junto com um médico local, organizam um treinamento intensivo, que inclui principalmente a abordagem correta e sensível ao paciente, no caso de tentativas. “Sabemos que o indivíduo que comete suicídio já tentou outras três ou quatro vezes”, explica Michele, reiterando a importância dos registros. Com esta informação e o acompanhamento terapêutico, o óbito tem muita chance de ser evitado, atesta. Além de treinar os profissionais, a Secretaria também ajuda a população a desmistificar o assunto.
A população também recebe folders com linguagem acessível e desenhos que mostram sentimentos. Os profissionais de saúde recebem cartilhas de bolso com informações e sugestões de abordagem. “A pessoa que está em sofrimento não vê saída”, explica Michele. Treinar os profissionais corretamente e informar as medidas corretas é um passo importante na prevenção. No futuro, diz a psicóloga, os dados coletados poderão ajudar a melhorar o monitoramento. “Vamos poder direcionar a ação para a necessidade de cada município“, afirma, lembrando que cada região tem suas especificidades. A região do Conesul , por exemplo, tem uma grande população indígena que está sendo bastante afetada. “Eles não têm casa, comida, nenhuma perspectiva de vida”, situação em que a entrada do álcool e da droga facilita o suicídio. O óbito entre eles atinge principalmente homens na faixa de 10 a 20 anos. “As crianças acabam imitando os adultos”, explica.
Quem também participa desta frente de prevenção são as universidades – UFMS e UEMS, parceiras do projeto na coleta de dados científicos. “A questão é complexa, e o setor da Saúde não dá conta sozinho, é preciso o envolvimento de outros setores, inclusive da Secretaria de Segurança”, diz, explicando que as drogas potencializam o problema. Sensibilizados pela questão que, desde 2015, está sendo alvo de campanhas, nos últimos anos, escolas, universidades, entidades do setor público e privado e a população de forma geral se envolveram neste movimento que vai de norte a sul do Brasil.
Entendendo os sinais
O consenso entre especialistas é que não existe apenas uma causa para o suicídio. Depressão, ansiedade, perdas, problemas financeiros, doenças crônicas, o suicida pode ter um ou mais destes sintomas. Mas não significa necessariamente que alguém com depressão vá cometer suicídio, esclarece a psicóloga. Quem comete suicídio não vê mais saída para a dor que sente. O fato é que, segundo a Organização Mundial de Saúde, nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas. A primeira medida preventiva é a educação.
É preciso perder o medo de se falar sobre o assunto. O caminho é quebrar tabus e compartilhar informações. Esclarecer, conscientizar, estimular o diálogo e abrir espaço para campanhas contribuem para tirar o assunto da invisibilidade e, assim, mudar essa realidade. Caso a pessoa se sinta à vontade para compartilhar o seu sofrimento, não é indicado: rechaçar (“Credo, isso é pecado! ”), esboçar expressões de choque (“Não acredito que você está pensando nisso! ”) e reprimir, caso o choro venha (“Pra que chorar? Você sempre teve tudo do bom e do melhor! ”).
Nós não somos orientados para identificar os sinais, mas eles existem na maioria dos casos de morte voluntária. Às vezes, eles vêm nas palavras, são os sinais verbais de quem diz, por exemplo, que não vê mais graça na vida, que quer “terminar com tudo”. Há também alertas que se confundem com sintomas de depressão: mudanças bruscas de humor, recolhimento, tristeza, ansiedade, uso de substâncias tóxicas, agitação (insônia) e desesperança decidiu sobre a própria morte. Há também quem cruze a fronteira da contemplação e planeja com antecedência, às vezes de um ano. Normalmente eles procuram colocar a contabilidade em dia, pagam dívidas e contas para evitar que a família tenha problemas, se desfazem de suas posses, inclusive objetos de valor afetivo.
Conversar é essencial para ajudar
“Doe um minuto, mude uma vida” é o tema da Associação Internacional de Prevenção do Suicídio (IASP). Um diálogo aberto, respeitoso, empático e compreensivo pode fazer a diferença. Procurar saber como a pessoa está, o que tem feito ultimamente e como está se sentindo. O foco da conversa deve ser o outro, portanto, não é recomendável: falar muito sobre si mesmo, oferecer soluções simples para os problemas que a pessoa relatar e desmerecer o que ela sente. Quem escuta o que ouve, oferece, naquele momento, as mãos para que juntos possam sair do buraco escuro e solitário da dor emocional.
A escuta ativa deve sempre estar presente nesses diálogos. Uma escuta ativa consiste em realmente ouvir e compreender o que o outro diz, não apenas esperar uma pausa para poder respondê-lo. Isso não significa, no entanto, deixar a pessoa falando sozinha. Algumas pontuações que podem ser feitas consistem em: fazer perguntas abertas; fazer um breve resumo do que a pessoa falou, de tempos em tempos, para que ela saiba que você está atento ao que ela diz; retornar a algum ponto que não tenha ficado claro e tentar, ao máximo, escutá-la sem julgamentos. “As pessoas estão ouvindo, mas não estão escutando”, diz a gerente da Rede Psicossocial da Secretaria de Saúde do Estado
Este ano CVV lança vídeos para prevenir suicídio entre adolescentes
O aumento no número de suicídio entre adolescentes e jovens é preocupante. Pensando em reduzir os crescentes índices desse tipo de ocorrência entre pessoas de 14 a 24 anos de idade, o CVV (Centro de Valorização da Vida) lançou três séries de vídeos com informações. O material é livre e gratuito e conta com o apoio da Unicef. A ideia é fomentar o diálogo aberto e livre de tabus. Cada série foca um público específico.
A primeira é composta por seis vídeos de um minuto cada um. São direcionados para os jovens. Assim, apresentam depoimentos em primeira pessoa sobre problemas característicos dessa faixa etária que podem comprometer a saúde emocional. Entre eles, o uso de drogas, abuso sexual, discriminação e pressão por notas.
Outra série de seis vídeos se volta para pais e educadores. Neles, especialistas discutem sinais no comportamento que indicam a necessidade de prevenção. Também são abordadas os papeis da família e da escola nessa questão.
Por fim, há uma série com seis videoaulas, além de um guia em pdf, para a formação de facilitadores de grupos de apoio a sobreviventes do suicídio.
Confira o link:https://catracalivre.com.br/saude-bem-estar/cvv-lanca-videos-para-prevenir-suicidio-entre-adolescentes.
O número 188 é telefone de socorro e aplicativo de música para dar esperança
O 188 é conhecido por ser o número do CVV, uma central telefônica voluntária que oferece diálogo para quem enfrenta depressão ou impulsos suicidas. Mas o 188 também é uma playlist da plataforma Spotify criada especialmente para a campanha, a fim de inspirar justamente quem mais precisa em momentos tão extremos.
São 40 canções selecionadas pelos curadores que tratam diretamente do tema, ou simplesmente trazem mensagens inspiradoras para momentos difíceis. Clássicos como “Don’t Try Suicide”, do Queen, “Everybody Hurts”, do R.E.M., “Here Comes the Sun”, dos Beatles, juntam-se a canções mais recentes como “Felicidade”, de Marcelo Jeneci, “Firework”, de Kate Perry e “Save You”, de Kelly Clarkson, em uma playlist verdadeiramente eclética, unida pela nobre missão de ajudar.
Setembro Amarelo
O Setembro Amarelo é uma campanha nacional de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Criado em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o Setembro Amarelo tem como proposta associar à cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, celebrado no dia 10 de setembro. A ideia é pintar, iluminar e estampar o amarelo nas mais diversas resoluções, garantindo mais visibilidade à causa.
Theresa Hilcar – Subsecretaria de Comunicação – Subcom
Foto: Saul Schramm