Soja: Com alta do dólar, preços sobem nos portos e no interior do Brasil
Nesta terça-feira (23), os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago fecharam o dia com ligeira queda, com os principais vencimentos terminando a sessão regular com baixas entre 0,75 e 2 pontos. Em contrapartida, o expressivo avanço do dólar deu suporte às cotações no Brasil e os preços da soja subiram nos portos e em boa parte das principais praças de comercialização.
Nesta terça, a moeda norte-americana chegou a bater na casa dos R$ 2,41, registrando assim o melhor nível em sete meses. No dia, a divisa subiu 0,53% e fechou a R$ 2,407. Na semana, a alta acumulada é de 1,45%
Segundo analistas financeiros, as incertezas sobre o cenário político do Brasil e uma menor possibilidade de a candidata Marina Silva do PSB, derrotar a atual presidente Dilma Rousseff, do PT, segundo a pesquisa MDA da CNT (Confederação Nacional dos Transportes) incentivou essa busca dos investidores por dólar, entre outros fatores.
“O mercado relevou completamente a cena externa e focou puramente nas eleições”, afirmou ao G1 o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira, referindo-se a pesquisas de intenção de votos para a presidência.
Assim, no porto de Paranaguá a soja para maio/15 fechou o dia valendo R$ 55,20, com alta de 0,18% e no de Rio Grande R$ 57,00, subindo 0,88%. No terminal paranaense, o prêmio para a soja com entrega em abril ou maio/15 é positivo em 62 centavos de dólar sobre o valor praticado em Chicago.
Segundo um levantamento feito pelo economista do Notícias Agrícolas, André Lopes, no interior do país os preços também subiram. Em Ubiratã e Londrina, no Paraná, o valor registrou alta de 1,90% passando a R$ 53,50 por saca; em Tangará da Serra/MT, o preço ficou em R$ 55,00, com valorização de 1,85%; Campo Novo do Parecis/MT, a cotação ficou em R$ 54,00 e registrando um ganho de 1,89%; São Gabriel do Oeste/MS 54,50, subindo 0,93%.
“Nos últimos 60 dias, o dólar subiu 12% em relação à cesta de moedas e, por isso, há uma função externa de pressão sobre todas as commodities”, explica o analista de mercado Fernando Muraro, da AgRural. “Quando isso passar, o que eu acredito que seja em outubro, as commodities respirar um pouco mais no final do ano”, completa.
Embora favoreça a formação dos preços no mercado interno, a alta do dólar frente a outras moedas acaba tirando boa parte da competitividade do produto norte-americano, uma vez que os deixa mais caros para os importadores.
Assim, Muraro acredita que o produtor brasileiro deve continuar observando o andamento de todas essas variáveis e evitar efetivar novas vendas nesse momento.
“Até março, com a chegada da safra sul-americana, o produtor deve ter melhores oportunidades de venda. Mas, depois de quatro ou cinco anos, o produtor deve se plugar novamente, porque o mercado mudou significativamente”, diz.
Bolsa de Chicago
Entre os fatores que seguem pesando sobre as cotações no mercado futuro americano estão as informações sobre o bom desenvolvimento da nova safra dos Estados Unidos. Com um cenário climático ainda muito favorável, previsto para se estender até o início de outubro, as lavouras de soja podem concluir satisfatoriamente seu ciclo de produção e, ao mesmo tempo, a colheita avança de forma muito positiva.
O boletim de acompanhamento de safras que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgou no final da tarde desta segunda-feira (22) mostrou que, até o último domingo (21), 3% da área norte-americana já havia sido colhida. O número ficou em linha com o registrado no mesmo período do ano passado, porém, ligeiramente abaixo da média dos últimos cinco anos.
“Um clima bom para a colheita nas regiões central e leste do Meio-Oeste poderia elevar o ritmo da colheita depois de um início um pouco mais lento”, disse o analista de mercado e jornalista do site norte-americano Farm Futures, Bryce Knorr.
Além disso, o USDA informou ainda que 71% das lavouras estão em boas ou excelentes condições e 45% das plantações já apresentam a soja derrubando suas folhas. E são condições como estas que vêm resultando em reportes de excelentes produtividades nos principais estados produtores.
Por outro lado, há alguns fatores dando suporte às cotações ou, ao menos, limitando as baixas que vêm sendo registradas pela oleaginosa. O principal deles é a demanda. Por conta de preços mais baixos, os importadores, segundo analistas, devem voltar com mais ânimo às compras.
Ontem, a Cargill, em nota divulgada pela agência internacional Bloomberg, afirmou estimar a demanda chinesa desse ano em 76 milhões de toneladas. Até o momento, a nação asiática já comprou cerca de 13,82 milhões de toneladas de soja.
Paralelamente, os últimos números do USDA mostram ainda que, das estimadas 46,7 milhões de toneladas a serem exportadas no ano comercial 2014/15, mais de 25 milhões de toneladas já foram comprometidas com as vendas para exportação e disso, 802,71 mil toneladas já foram embarcadas, contra um total de 588,22 mil toneladas do mesmo período do ano anterior.
“Da safra americana que tem sua colheita iniciada, o volume de comercialização está pouco acima de 20%, ou seja, de 20 a 22% da safra negociada. Mas, o movimento de compras é maior, principalmente por parte da China. As vendas para exportação dos EUA já chega a quase 26 milhões de toneladas, ou seja, os chineses já compraram mais em papeis do que os produtores americanos venderam. Então, certamente teremos que ver uns ajustes para atender a demanda ou pagar mais para o produtor entregar”, explica Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting.
Paralelamente, dados positivos sobre a economia da China também trouxeram um novo fôlego ao mercado. De acordo com informações da Reuters, o setor industrial chinês ganhou força em setembro e o índice de Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) preliminar do HSBC/Markit para a indústria subiu a 50,5 em setembro contra leitura final de 50,2 em agosto. A expectativa do mercado, no entanto, era do que o setor permancesse estagnado nos 50,0 marca que separa expansão de contração.
Fonte: Notícias Agrícolas