Soja: Mercado opera estável na CBOT nesta 5ª, inverno rigoroso nos EUA deve aumentar demanda por rações
Na manhã desta quinta-feira (13), os futuros da soja têm leve alta na Bolsa de Chicago, porém, operam bem próximos da estabilidade após a sessão agitada registrada ontem, quando o mercado fechou perdendo mais de 16 pontos nos principais vencimentos.
Além das já conhecidas notícias sobre a demanda, os investidores observam agora as previsões climáticas indicando um inverno bastante rigoroso nos Estados Unidos, o que deverá impulsionar a demanda por alimentaçã animal no país.
Uma massa de ar ártico trará as temperaturas para 40 graus a menos do que o normal para as regiões centro e norte dos EUA esta semana, de acordo com o Serviço Nacional de Clima do país. Dessa forma, os animais que seguem para o confinamento irão necessitar de mais energia para se manterem aquecidos, o que deverá fazer com que os produtores, principalmente os granjeiros, aumentem seus estoques de ração – que tem como base o farelo de soja e milho.
Além dessa nova informação que o mercado ainda avaliada, há ainda a divulgação, nesta quinta-feira, do novo boletim semanal de vendas para exportação do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e, se os números vierem fortes e até mesmo acima das expectativas podem trazer um rumo ainda melhor para os preços.
Veja como fechou o mercado nesta quarta-feira:
Na sessão desta quarta-feira (12), os preços da soja fecharam em campo negativo na Bolsa de Chicago. O mercado viu as cotações alcançarem os melhores patamares em três meses e, em seguida, os investidores e fundos especulativos optaram pela realização de lucros, deixando algumas posições e fazendo o mercado recuar, segundo explicaram analistas. Entre os fundamentos, porém, nada mudou, principalmente aos que se referem à força e ao crescimento da demanda.
Durante o pregão, o vencimento janeiro/15, o mais negociado nesse momento, chegou a bater na máxima de US$ 10,86 por bushel, com o mercado buscando os US$ 11,00, rompendo a resistência para essa posição de US$ 10,70, porém, o mercado não se sustentou acima disso. “Quando os fundos e investidores viram o janeiro acima dos US$ 10,70 começaram as vendas (de posições) e os preços passaram a cair, tentando se acomodar no patamar de suporte dos US$ 10,50”, expliciou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Assim, o vencimento encerrou os negócios a US$ 10,47/bushel, caindo 16,25 pontos e liderando as baixas.
Essa movimentação técnico do mercado, entretanto, resultando em baixas de dois dígitos no fechamento de um pregão que chegou a registrar ganhos superiores a 16 pontos nas posições mais negociadas, não anula a força que as informações têm exercido sobre o mercado. Problemas com a falta de produto disponível e de logística nos Estados Unidos para atender a um consumo aquecido tem provocado um rally de preços tanto para a soja em grão, como para o farelo nos últimos dias.
Outro fator de pressão para as cotações neste pregão,segundo explicou o analista de mercado Vinícius Ito, da Jefferies Corretora, de Nova York, foi a notícia da importação de farelo de soja da Argentina pelos Estados Unidos. “Tivemos rumores de que pelo menos um importador nos EUA teria importado um ou dois cargos de farelo argentino para embarque dezembro ou janeiro, e mais rumores de que a Cargill também teria adquirido alguns outros cargos”, disse.
No entanto, ainda de acordo com Ito, esse volume seria insuficiente para sanar o problema que o país vem sofrendo com a distribuição do farelo, uma vez que acaba por atender somente as regiões mais próximas dos portos, enquanto trata-se de um cenário ‘conturbado’ em todo o país. “Essa notícia deu pelo menos um limite nessa sessão, depois de o mercado estar subindo há quase um mês e meio com muito esforço”, completou o analista.
O mercado da soja em grão ainda tem sido significativamente influenciado pelo movimento positivo dos preços do farelo de soja em Chicago que, antes da realização de lucros, registraram a maior anlta em cinco meses nesta quarta-feira.
“Estamos vendo uma demanda muito forte pela soja e também pelo farelo, que está sendo o líder desse rally que está sendo observado no complexo. Vemos alguns problemas de oferta de farelo nos EUA com a logística comprometida e também algumas previsões climáticas indicando que o hemisfério Norte vai passar por um dos invernos mais rigorosos e isso significa maior demanda para ração para o setor de proteína animal”, explicou o consultor de mercado Steve Cachia, da Cerealpar. No link abaixo, confira a íntegra da entrevista de Cachia:
Ainda segundo explica o consultor, há uma grande necessidade de exportação do grão para a China e isso fez com que o esmagamento da soja ficasse abaixo das necessidades da demanda e isso fez com que os preços do derivado disparassem, fazendo os compradores garantirem seu produto antes de os valores subirem ainda mais.
Paralelamente, se observa a possibilidade de uma exigência maior da oferta norte-americana à medida em que o atraso que tem sido observdo no plantio da nova safra do Brasil resulte em uma colheita um pouco mais tarde e, consequentemente, em uma chegada tardia da oferta brasileira ao mercado, o que também acaba sendo um fator positivo para os preços da soja em Chicago.
A previsão da consultoria alemã Oil World é de que a colheita da soja no Brasil poderia atrasar, nesta temporada, de duas a três semanas, adiando o programa de exportações do Brasil para a segunda ou terceira semana de fevereiro.
“As perspectivas de atraso na colheita brasileira deverão resultar em uma dependência mundial maior e mais extensa da soja norte-americana. Quantidades maiores da commodity dos EUA serão necessárias para satisfazer as necessidades chinesas de importações, além de volumes maiores de outros países, como as nações da União Europeia, por exemplo”, informou o relatório da Oil World.
A expectativa do mercado é que de que essa demanda mundial por soja siga forte e crescente, podendo trazer uma alta sustentada para as cotações em Chicago, mesmo que os preços não disparem de uma só vez. “O mercado observa primeiro o que acontece nos Estados Unidos e, se observarmos o que acontece por lá, apesar da safra recorde, o país vem de estoques quase zero, uma demanda forte e agressiva e tudo leva a crer que os estoques o USDA divulgou nos últimos dias deve ser corrigido para baixo. Então, o mercado está antecipando uma possibilidade de os estoques nos EUA não serem tão grandes quanto se esperava inicialmente, o que justifica os preços não se manterem na casa dos US$ 9,00”, diz Cachia.
O ritmo das vendas para exportação e dos embarques norte-americanos também está mais acelerado do que o registrado no ano comercial anterior e, com isso, pode haver um reajuste positivo ainda nos números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) para o esmagamento de soja no país, além de um aumento nas exportações e, consequentemente, de uma redução nos estoques, ainda segundo explica o consultor.
Dólar e Mercado Interno
No Brasil, o mercado da soja também vem registrando uma boa reação dos preços nos portos, para a safra futura e consolidando uma firmeza, pelo menos por hora, nas cotações do mercado disponível. E esse movimento, além da valorização da oleaginosa em Chicago, se deve também ao aumento da taxa de câmbio.
“Boa parte dos preços melhores que estamos vendo no mercado interno se devem à taxa de câmbio (…) O mercado financeiro também dá sinais de que, dependo da equipe econômica (do Brasil), o dólar poderá voltar a cair, então, a preocupação maior passa a ser o câmbio, é preciso um alerta maior sobre isso agora”, explica Steve Cachia.
Nesta quarta-feira, a moeda norte-americana registrou mais um dia de volatilidade frente ao real, porém, conseguiu fechar o dia em campo positivo, com 0,25% de alta, a R$ 2,5641 na venda, maior fechamento desde abril de 2005, segundo informou a agência de notícias Reuters.
“O mercado está tensionado. Está todo mundo torcendo para ver um sinal de mudança, mas cada dia que passa fica mais difícil apostar nisso”, disse o gerente de câmbio da corretora TOV, Celso Siqueira à Reuters.
Apesar disso, os preços da soja recuaram nos portos, mas ainda assim fecharam o dia com bons patamares. Em Paranaguá, o produto com entrega em maio/15 ficou estável em R$ 64,00 por saca, mas caiu 1,52% em Rio Grande, fechando o dia a R$ 65,00. Ainda no terminal gaúcho, porém, a soja disponível manteve os R$ 66,00.
Por outro lado, os preços no mercado disponível no interior do país subiram expressivamente, segundo os sindicatos e cooperativas pesquisados pelo Notícias Agrícolas. No Paraná, Londrina e Ubiratã tiveram alta de 1,67% para R$ 61,00 por saca, enquanto a alta em Cascavel foi de 2,52% também para R$ 61,00. Em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, ganho de 2,59% para R$ 59,50 e de 0,15% em Jataí, Goiás, para R$ 53,33.
Para o consultor da Cerealpar, o momento atual do mercado brasileiro traz, portanto, uma boa janela de comercialização para o produtor que precisa fixar ao menos uma pequena parte de sua safra. “Esses níveis de preços, se olharmos em meses anteriores, trazem um certo alívio em relação às expectativas iniciais. Os negócios que são feitos nesses patamares garantem uma certa rentabilidade. Porém, é bom alertar, nem tanto pessimismo e nem tanta euforia. A oferta mundial é abundante, porém, a demanda está muito forte”.
Cachia explica ainda que essa recente baixa nos prêmios nos portos brasileiros – com 86 centavos de dólar para o vencimento janeiro, 62 para março e 33 para abril e maio/15 – é reflexo dessa alta dos preços em Chicago. “Prêmios e Chicago operam ao contrário. Preços reagindo na CBOT dão melhores condições para originar soja e não tem necessidade do prêmio tão elevado”.
Fonte: Notícias Agrícolas