Soja: Mercado tem fluxo parado no Brasil, mas preços elevados nos portos
A greve dos caminhoneiros no Brasil já impacta sobre os preços da soja, os quais terminaram o dia em campo positivo e com boas altas na Bolsa de Chicago na sessão desta quarta-feira (24). Nos melhores momentos do pregão, as altas chegaram a se aproximar dos 30 pontos.
Com esse avanço, os preços nos portos brasileiros subiram 0,75% para R$ 67,00 por saca, enquanto apresentaram ligeira baixa em Rio Grande – de 0,15% – para encerrar os negócios a R$ 67,50. No interior do país, o dia também foi positivo e as cotações chegaram a subir mais de 1% em importantes praças de comercialização.
Apesar disso – e de alguns negócios que vem sendo realizados para o produto que será entregue nos portos entre abril e maio – o mercado da soja está parado no Brasil, haja vistas que o fluxo do produto está bloqueado pela greve dos caminhões, e o cenário já está virando notícia no cenário exterior.
“Hoje, o mercado mundial é muito dependente do Brasil, que é o maior exportador do complexo soja, e qualquer movimento que exista que faça uma ruptura de fluxo de produto impacta o mercado”, explica o consultor de mercado Liones Severo, do SIM Consult.
Para ele, essas paralisações somente anteciparam um movimento positivo para os preços que já vinha sendo esperado. Severo acredita que o mercado tenha força para buscar patamares entre US$ 11,40 e US$ 11,50 por bushel e, até junho, alcançar os US$ 12,00.
“Hoje aconteceram muitos negócios no Brasil, o produtor tem aproveitado bastante esse desempenho do dólar, houve muita fixação com vendas para entregas mais adiante. O mercado não parou, o que parou foi o fluxo”, diz o consultor. “Há uma demanda muito forte, muitos navios para carregar e o Brasil é muito importante para o suprimento mundial. Eu não vejo prejuízos de preços para a soja brasileira – a não ser que essa greve se estenda por muito tempo. O farelo de soja é muito valioso, tem um bom desempenho, hoje rompeu uma barreira importante – US$ 355,00 em Chicago – e os produtores brasileiros descarregaram boas vendas no mercado hoje”, completa.
Fluxo de Produto
O fluxo de caminhões, principalmente para o porto de Paranaguá, foi interrompido pelos protestos – que já somam mais de 100 pontos de paralisação – e o produto não pode ser escoado. Segundo números da assessoria de imprensa do terminal, há cerca de 45 caminhões em seu pátio nessa manhã, enquanto a média, para essa época de pico da colheita, é de 900 veículos. “Todo o fluxo de caminhões está parado.
No final da tarde veio a notícia de que a entrada e saída do porto de Santos também haviam sido bloqueadas pelas manifestações.
Além disso, as indústrias nacionais também estão paradas, uma vez que não recebem a matéria-prima para darem continuidade às suas atividades.
A não chegada da soja nos portos atrasa também o embarque do grão nos navios. Há uma fila extensa nos portos – para algo perto de 5 milhões de toneladas de soja somente para a China, sem contar os demais destinos – e já começam a correr os valores chamados de demurrage, que é a multa de sobre estadia das embarcações. Hoje, esse valor é de US$ 15 mil por dia. São cerca de 50 navios ao largo.
Transferência de Demanda e Prêmios
Com o Brasil parado, o mercado deverá observar uma transferência de demanda do produto brasileiro para o norte-americano, principalmente no caso do farelo de soja. “As fábricas estão sem produto e não dá para continuar processando porque o farelo não tem armazenagem de longo prazo, se faz e se manda adiante. E a disponibilidade do subproduto mais importante da soja vai ser atrasada”, diz.
As greves devem impactar ainda o andamentos dos prêmios nos portos brasileiros, entretanto, esses valores seguem positivos e contribuindo para a formação dos preços no Brasil, além de indicarem que a demanda segue forte.
“O prêmio brasileiro tem sido estável e tem até surpreendido. O único problema é que o prêmio americano está fraco e essa competição existe. Nós temos uma vantagem de que o nosso frete do Brasil para a China é cerca de US$ 6,00 mais barato (…) e nos portos americanos há um excesso de produto que talvez leve de dois a três meses para de desfazer, é aquela situação de espera dos navios. Então, vemos que a demanda chega antes da oferta”, explica Liones Severo.
Fonte: Notícias Agrícolas